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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Doloroso

19.10.09, Rodrigo Caldeira

Ainda é dolorosa a vida de sem-casamento.

Minha mente sofre tanto com isso tudo.

Meu corpo padece uma tristeza íntima profunda.

Meus ossos estão distraídos e minha juntas já não se importam mais de articularem-se.

Meus olhos ardem de sono e minha cabeça dói de tanto ficar acordado.

Sinto medo de dormir, dormir traz sonhos e geralmente sonho com o meu casamento.

Meu intestino está saudável, mas não me alimento corretamente há dias, já sinto os efeitos da fraqueza.

Minhas nádegas não suportam mais ficarem sentadas suportando o peso de um corpo cansado e sem estímulos.

Minha coluna enverga-se como uma letra c porque meus pensamentos pesam a cabeça e o pescoço já não suporta mais equilibrar tanto raciocínio.

Já não penso na esposa como antes mas não esqueço o casamento e toda minha alegria de ser esposo, dono de minha casa, chefe do meu lar.

Meus projetos se foram todos e minha alegria de viver é substituída pela tolerância em viver.

Já não confio em mim mesmo para mais nada, perdi a coragem e o brio.

A capacidade do governo e da prudência me esvaem-se pelos dedos de minhas mãos e minhas costas dóem parte culpa, parte raiva, parte inocência, parte vítima.

minhas mãos têm vida própria e fazem o que quiserem sem meu conhecimento nem aprovação.

Fico neste quitinete às vezes 24 a 48 ou 72 horas sem conseguir ver o tempo passar e a vida acontecer.

Olho a gravura, uma foto de uma moça da qual me preenche os olhos e o coração um pouco e fico conversando com ela como fundo de tela da área de trabalho do meu computador.

Enlouqueço com essa solidão, eu não gosto da solidão, nunca gostei da solidão.

Tem dias que estou contente por estar só novamente, para poder realizar-me como homem e como gente. Lembro-me do cativeiro que era viver com uma pessoa fria, calculista, covarde e lisonjeira. Mas é da minha vida de casado que reclamo o trono. Era da possibilidade de me tornar pai, não só esposo, mas pai de filhos amados e adorados.

Perdi toda a chance de glória e misericórdia, sinto vergonha de mim mesmo, não suporto olhar-me nos olhos por muito tempo, sou o atraso e o atrasado.

Odeio as fotos porque elas mostram minha tristeza em meus olhos, mas todos pedem fotos para ver meus olhos tristes.

Eu perdi a fé, ainda que confie em Deus, mas não sei se o amo como amei muito tempo passado.

Perdi o rumo da esperança e o discernimento sobre os desígneos de Deus. Já não lho chamo com nomes carinhosos e sempre que posso evito pensar que Ele existe. O temo e O respeito, mas não consigo mais ser como antes, estou decepcionado comigo e com
Deus, estou frustrado com os milagres e todos os santos e anjos.

Estou esgotado e não consigo mais chorar porque dessa minha cara só derrama vergonha, culpa e humilhação e não suporto às vezes.

Mas tenho dito que toda noite eu preciso falecer, para que toda manhã eu não acorde, não desperte, mas ressuscite.

Reflito a separação, o rompimento conjugal de meu casamento todos os santos dias, todas as horas e minutos, fico quase enlouquecido com algo que demoro acreditar e não consigo entender.

Eu sei que preciso continuar a vida, levantar a cabeça e enfrentar a batalha, mas a armadura pesa e a espada me corta ás vezes.

Já me preenchi de Deus, vivi a fé do bom cristão, fui devoto, fiz procissão, e as respostas não vieram, nem milagres, nem graças, nem prodígios, nada.

Então mergulhei no abismo do desconhecido e bati às portas de todas as crenças possíveis e imagináveis, de tudo eu vi um monte de coisa das quais jamais pensei que chegaria tão perto e as respostas não vieram, nem magias, nem mandingas, nem esperanças, nada.

Fiz regressões de memória e de vidas passadas, meditei, concentrei, fiz promessas

e votos de purificação e as respostas nunca vieram, nunca as vi e isso cansa a alma.

Esvaziei-me de todos os pensamentos e enchi-me de trabalho, ocupações parei de raciocinar, de me culpar, de me agredir, passei a gostar de mim e tudo não passa de ilusão, porque a verdade está aqui, tudo se torna mais visível quando se tenta não ver o que realmente é. E isso abre profundas e largas chagas no meu coração e arrasoa meu espírito, desfacela minha auto-estima e consome minha energia todos os dias, todas as noites, todas as madrugadas, todas as horas, minutos, segundos, centésimos de segundos e as respostas não vêm, nem uma seta, nem uma direção, nada. A vida continua no escuro e quanto mais eu tento ignorar o fardo desse sentimento triste de solidão, maior a sentença, o castigo, a punição se torna, a dor é inigualável.

Já tive meu corpo queimado, já tive inflamações agudas em alguns órgãos por causa

de estresses, mas a dor da solidão, do abandono, da rejeição, da perda, do fracasso

do casamento é incomparável, é única, exclusiva e tortura o corpo e a alma.

É uma maldade ser punido sem um julgamento justo, é covarde simplesmente ser

condenado sem ser ouvido, é um crime pagar sozinho e com a pena máxima um furto,

um deslize, uma falta. É como se desse ao ladrão de galinhas a sentença de morte

e saber que o juiz rouba e mata, não galinhas, mas humanos. É isso que sinto.

Injustiça. Maldade. Perversidade. Ausência de compaixão. Morte lenta.

A cada dia vivo menos e sonho menos.

A cada hora penso menos, espero menos, acredito menos.

A cada minuto quero menos, idealizo menos, sou menos, compreendo menos.

Então por que nada acontece? Por que respostas não vêm? Por que graças e prodígios

não acontecem? Por que eu não sei.

Da vida em santidade me mantive reto e íntegro enquanto eu acreditava.

Estou me enveredando pelos caminhos da promiscuidade e perdição.

E esse universo não me sinto bem, me agride, me assusta, me perturba.

Entretanto estou começando a digeri-lo para ver se encontro respostas nesses lugares

também. Para tudo existe uma resposta, mas não sei mais onde procurá-la.

Enquanto isso minha alma respira a saudade de minha vida de casado, dos meus planos

de ser pai, de ser esposo, de constituir família, de ter cachorro no quintal, carros na garagem e uma casa simples, aconchegante e com jardim colorido. Porquanto meu espírito pára.

Estou cansado, sempre fico cansado ao extremo, 18 a 36 horas acordado,

meus olhos estão em sangue dilatados, mas ao menos assim eu deito e

consigo falecer literalmente para desligar meu cérebro que tanto me condena

mesmo que eu não seja o pior dos condenados, mas não tenho certeza de mais

nada do que aconteceu, tudo é suposição e comentários. Sou prisioneiro de meus pensamentos, sou o réu das atitudes fúteis e mesquinhas da outra pessoa. Sou o nada que sobrou de um tudo de alegria. Mas estou muito cansado, é hora de morrer no sono que preparo todos os dias, porque só assim consigo dormir.

E agora dormirei para morrer, mas ressuscitarei logo em breve, certamente amanhã e amanhã mesmo ou depois de amanhã morrerei novamente para ressuscitar no amanhã seguinte e assim vou fazendo, sem respostas, sem graças, sem prodígios, sem direção.

Quando minha tristeza toma conta de minha vida, um sono implacável, quase mortal toma meus olhos de refém, e minha vontade é só dormir, dormir até a mente não lembrar de mais nada, até mesmo de quem sou. É muito ruim isso.

Deus, se o Senhor me vê.... liberta-me.

 

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