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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Amizades são como roupas

01.10.10, RodrihMC

Roupa-Social-Feminina

 

Venho refletindo como temos muito à nossa mão, ao nosso alcance sem sequer precisarmos ou mesmo pedir. Como produtos numa prateleira infinita, estamos disponíveis aos montes para novas amizades, novos rostos, novos sorrisos, todos sempre trazendo histórias, novidades e oportunidades.

 

Nem sempre a oportunidade é realmente oportuna, seja talvez oportunista, mas todos os que compram a passagem para viajar na internet sempre estarão em evidência das ocasiões sugestionáveis. É impossível resistir à tentação do mais fácil e mais cômodo, do mais bonito e visualmente mais agradável. Um comodismo irresistível igualmente a deixar de usar o controle remoto de uma tevê, dvd, home teather e até da lâmpada que poderá ter a intensidade controlada também à distância. Essa zona de conforto está intrínseca em nós humanos, assim como nós estamos para a vida que escolhemos levar.

 

Há certo tempo fiz alguns experimentos de ação e reação. Comecei a vida num site de relacionamentos com um perfil arrasador, cheio de novidades e muito envolvimento. Consegui os primeiros 200 pedidos de amizade recheados de elogios e sorrisos em apenas quatro dias. Pude perceber que minha carência não me deixa sozinho numa ilha perdida, isolada de contatos. As pessoas estão carentes da verdade, da intimidade, do espaço familiar e aquela sensação de fazer parte da vida de alguém.

 

Não é à toa que o Big Brother Brasil é sucesso sempre que acontece, justo pois as pessoas necessitam saber do íntimo do outro. Está em cada um de nós, ainda que nos façamos de santos ou desinteressados, o voyeurismo faz parte de nossa humanidade. Saber da vida alheia é o que nos motiva a viver os nossos problemas e nossas dívidas, nos orienta que rumo seguir, qual destino optar, definir. Ter a noção que o outro está perdido tanto quanto nós é melhor do que saber se o jardim do vizinho está sendo cuidado e cheio de borboletas. Ninguém quer apreciar os jardins nem as borboletas, querem mesmo é saber como você vive e com quem anda.

 

Então noutro mês fiquei quase duas horas enviando mensagens de acolhimento, valoração e estímulo para cada pessoa com quem eu mantenho amizade. Tudo personalizado, usando o nome de cada pessoa e procurando lembrar de algum detalhe, um apelido, uma peculiaridade pessoal, qualquer lembrança que me fizesse montar uma mensagem inteiramente direcionada para cada pessoa. Cheguei até a rever perfis, mensagens anteriores e pesquisar por grupos das quais participavam a fim de encontrar detalhes que caberiam a cada pessoa. Valeu o laboratório, tive uma experiência enriquecedora e Deus abençoe cada um que me ajudou de alguma maneira a entender coisas tão importantes quanto curiosas. Recebi mensagens enviadas com depoimentos lindos e também muito íntimos, de pessoas que estavam precisando imensamente receber palavras que tocassem suas singularidades.

 

Notei que as pessoas estão precisadas e precisando sempre de ouvir palavras urgentes, de conforto e de estímulo. Daí eu me silenciei. Troquei o perfil, a foto e a maneira de me portar. Dos mais de 480 contatos de amizades seletivamente organizados em meu perfil desse site de relacionamentos cristão, três ou quatro pessoas manifestaram curiosidade pela mudança repentina de dados no perfil, ou seja, menos que 1% de interesse. Pude concluir que as pessoas estão sim interessadas umas nas outras, mas estão bem mais interessadas em receber e pouco de se dar.

Não há mais espaço para o querer, o procurar, o desejar. Se você tem algo para oferecer, dê primeiro e receberá um mar de rosas depois, mas não espere que a outra parte tome a iniciativa. Se quiser despertar-se e se lembrado que Deus ama você, queira antes manifestar que a outra parte também é amada por você, então você receberá a bênção merecida. Sempre foi assim, sempre será. Ninguém vai parar de fazer o que está fazendo, ninguém vai tentar fazer algo, mesmo que não esteja fazendo nada, ninguém vai procurar aquecer amizades esquecidas no fundo da geladeira se não for estimulado para isso. Você precisa acontecer o tempo todo, explorar-se, expor sua identidade e de preferência sua intimidade senão você continuará dentro de um potinho de plástico vedado, no fundo da geladeira, mais abaixo das prateleiras por todo o sempre até que você se manifeste. Um dia ou outro você poderá ser visto sem querer e quase como num impulso poderá ser que seja lembrado.

Mas essa não será a intenção mais verdadeira. Apenas um impulso. Ninguém deve se sentir culpado ou cobrado por esse texto que faço. Deve se sentir agradecido por mim. Não deve se sentir usado, porque quando comecei a participar do site eu nem sequer sabia que um dia postaria um texto sobre esse tema. Sou um escritor por paixão, amador (fazer por amor), então sempre tenho insights que me leva a lugares nunca imaginados no meu consciente coletivo. Nem deve desconsiderá-lo, porque até mesmo as passagens na Bíblia não são desconsideradas em sua real importância e significado, ainda que tenham sido escritas para servir de estímulo e mudança de comportamento, de vida e de credo. Sendo assim, por que acharia eu, que esse texto falando sobre amizades e comportamentos não mereceria atenção maior?

 

Eu sei que somos todos iguais quanto às iniciativas. Ninguém faz nada sem que tenha que ganhar algo em troca. Sempre foi assim desde os primeiros humanos munidos de capacidade intelectual. A modalidade do escambo ainda existe, aliás, a própria troca de moeda por mercadoria é o escambo acontecendo, uma energia que não pára. Não dá para perdoar setenta vezes sete e tampouco para amar o próximo sem saber se ele escova pelo menos os dentes. Somos todos iguais. Ninguém é santo, mas ninguém gosta de se expor. Se condenar a si mesmo para que? Se é muito melhor tentar ser quem não somos ou quem gostaria de ser? E o mais gostoso em ler um texto desses é que nenhuma dessas linhas nos atingirá nem nos tirará o sono, porque há mais para com que se preocupar e nem eu sei por que escrevo tanto se até eu fico devendo quando releio meus próprios parágrafos. É, eu também faço parte e não sou melhor que ninguém.

 

Amizades são como roupas que vestimos nas ocasiões que pretendemos viver. Têm roupas que de tão confortáveis que são, a usamos, e usamos, e usamos e usamos. Daí ela solta um fio ou o botão arrebenta nos expondo um pouco mais do que de praxe, e fazemos uma cara feia para ela, arrancamo-la do nosso corpo, enfiamos as peças dentro de um saquinho e amarramos a boca para que fiquem lá esperando que se “auto-consertem”.

 

Roupas não se auto-consertam se você não a levar para a costureira ou tentar usar uma agulha e uma linha para você mesmo tentar um reaproveitamento, afinal ali no pacote do esquecimento está uma roupa que você adorava usar. Mas somos assim mesmo. Se não está bom, trocamos. Funciona desse jeito com comida, se essa comida não me satisfaz me paladar, vou comer fora, se o restaurante não me agradar a música que toca, vou à lanchonete ao lado, se não me agradar a cor do balcão, vou ao boteco mais adiante, se não fui com a cara do mosquitinho que voava sobre a mesa passo no mercado e saio comendo uma caixa de bombons. Para que interessar em aceitar a música do restaurante se posso comer bombons? Para que nutrir amizades sinceras se posso curtir determinadas amizades conforme a ocasião ou a fantasia que quero viver? Roupas.

 

É por isso que muita gente está sozinha e não sabe por que. Sabe sim, só não querem ter o trabalho de ouvir a verdade de si mesmas. E nem de ninguém.

 

Um dia, quem sabe, se muda um móvel de lugar para ver se acontece algo diferente? Talvez a vovó caia no chão ao sentar-se no vão onde lá havia enraizado uma poltrona anteriormente, mas que agora a poltrona está mais para a direita. Pelo menos aconteceu alguma novidade! Ainda que seja você a única pessoa disponível para levar a anciã ao hospital e lá, quem sabe, conhecer o médico e ele ser o seu futuro amor?! Mas se você não fizer nada, nada mudará. E não deve mais perder tempo com a justificativa que você entregou sua vida ao Senhor ou aos estudos, talvez ao esporte ou ao trabalho e a partir de hoje você não come, não bebe, não respira, nem cheira, nem morde e tampouco come um Big Mac. Isso não convence mais, não funciona mais. O próprio Senhor Deus já não se deixa influenciar por tanta vaidade, porque os milagres acontecem com aqueles que acreditam no fogo que carregam consigo. Esse fogo se chama Fé. As amizades só lhe farão bem quando você intensificar seus laços afetivos com o outro. Fechar buracos do passado, catacumbas ainda abertas dos antigos namoros, amizades que terminaram por inveja ou disputa, desentendimentos dentre outras mazelas.

 

É preciso saber viver – já dizia a música. Mas saber viver não precisa necessariamente ficar atento a tudo o tempo todo, desse jeito você pira e acaba não vivendo. É preciso saber viver e viver com um pouco de sabedoria. Para isso existe a Bíblia, como também mestres sábios que deixaram alguma coisa para servir de farol para os perdidos.

 

Amizade é muito bom, mas trocar de roupas é melhor ainda.

 

Rodrigo M. Caldeira

1º.10.2010 15:10h

Águas Claras - DF