Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

Ilusão x Vaidade do Pobre x Rico

11.03.19, Rodrigo Caldeira
em  14 de fevereiro de 2018
 

Durante uma boa parte da minha vida eu gostei de carnaval. Tanto que participei dos desfiles das escolas de samba do Rio durante 11 anos. Três na União da Ilha do Governador, levado por amigos e 8 na Beija-Flor de Nilópolis, aquela pela qual sempre torci desde os 3 anos de idade. Em 1998, há 20 anos, portanto, resolvi me afastar dos cortejos carnavalescos durante um insight que tive na frente do recuo da bateria na rua Salvador de Sá: mas por que cargas d'água estou aqui sendo empurrado para frente, com gente berrando nos meus ouvidos? E não importa quem você seja - passista, ritmista, velha guarda - a menos que esteja no topo, sempre alguém vai berrar contigo ou te dizer para onde ir durante um desses desfiles.

O que ocorre na Sapucaí é uma repetição de micro universos onde pessoas muito pobres/comuns se tornam importantes durante 80 minutos. E para elas está bom. Chegam em ônibus fretados pelas escolas de samba carregando fantasias quentes e pesadas em sacolas plásticas, ficam ali na concentração que ocorre na beira do Canal do Mangue, um curso de água poluída e fétida que corta o centro do Rio, esperam longas horas num pedaço escuro da avenida Presidente Vargas, recebem, aos berros, ordens para vestir aquelas geringonças e vão sendo empurrados até uma curva que dá para um mar de luz e som. Já lá dentro, braços abertos para se exibir para os turistas nas frisas e arquibancadas, e para ricaços, celebridades e autoridades nos camarotes, continuam sendo empurrados aos gritos de "bora, porra", "vamos, caralho", "anda, merda", pelos diretores de ala e de harmonia, que também são apenas figurantes com um pouco mais de importância.

São pintores de parede, pedreiros, motoristas de ônibus, donos de pequenos comércios, funcionários de empresas, professores, que exercem com gosto ali naquele micro universo todo o seu micro-poder, que é a capacidade de mandar no "componente".

Estrelas mesmo só os artistas, mulheres plastificadas casadas com ricaços e as famílias dos bicheiros, que descem do camarote já na área de início de desfile (nem pensar em se misturar com o populacho na beira do canal de esgoto) e sobem para carros alegóricos ou posições de destaque cercados de pessoas com camisas de "apoio".

Mas na TV é uma coisa linda, todos na "festa popular".

A realidade é que o desfile das escolas do Rio de Janeiro, movido a dinheiro sujo de bicheiro misturado com dinheiro público, é uma festa repetitiva e elitista que se vende como cultura popular. O pobre ali só serve para empurrar alegoria, empurrar componentes para frente, bater tambor, servir os comensais e fazer a segurança. E o jet set faz pose de que gosta de batucada enquanto se empanturra de champanhe e camarão nos camarotes refrigerados. Ficam ali observando aquilo como um zôo, ora correndo para as salinhas reservadas com serviço de bufê, ora se misturando rapidamente ao populacho para fingir que é "do povo".

Mas lavando bem as mãos com sabonete líquido depois.

Assim como lavam as mãos para a real essência daquela festa e da origem do dinheiro que a patrocina.

A bolha dos Ultrajovens

11.03.19, Rodrigo Caldeira

em  

Há alguns dias, a revista Época publicou uma edição que viralizou nas redes sociais. Centrando no tema dos ultrajovens, o grande destaque foi a capa criativa. Apesar de terem feito um bom trabalho com a ilustração, o artigo em destaque não foi à altura. Mas traz pontos interessantes, a partir dos quais é possível fazer algumas reflexões:

Enquanto países desenvolvidos estão focados em ensinar aos seus jovens inteligência artificial, machine learning, big data e outros assuntos pertinentes, por aqui ainda estamos presos em discussões que não têm relevância econômica alguma, como identidade de gênero ou saber se mulher branca usar turbante é apropriação cultural. São discussões que, embora sejam consideráveis, simplesmente não ajudam a desenvolver um país onde 70% da população é analfabeta funcional.

O resultado é que, pela ignorância gerada, nossos jovens crescem acreditando que salário é uma benevolência do empregador e não uma função da produtividade e da sua disposição de assumir riscos.

Com isso, creem que o fato de não conseguirem comprar coisas é porque as empresas não querem dar remunerações altas, quando a realidade é que nossos jovens são menos capacitados que beagles de laboratório.

Basta ver os cursos universitários mais concorridos nos EUA ou Europa e aqui no Brasil. Por lá é engenharia, business, management ou tecnologia. Já por aqui são cursos de humanas.

É claro, o adolescente que se formou no ensino médio sem saber a tabuada nem conseguir interpretar um artigo acadêmico não tem outra chance na vida a não ser fazer vestibular de Ciências Sociais ou Pedagogia na Uniskina ou qualquer outra coisa do tipo.

Não que não sejam profissões dignas, mas não geram valor econômico. Sobretudo por estarmos já saturados de profissionais desse mesmo perfil. Esses que, como num magnífico esquema de pirâmide, vão trabalhar ensinando mais jovens a entrarem nessas profissões e perpetuar o ciclo. Enfim nos tornaremos o país que não produz tecnologia, mas está repleto de sociólogos e pedagogos.

Quanto custa o outfit dos ultrajovens?

Mas não precisa nem ir tão longe para entender a idiotização dessa geração. Basta ver o vídeo que viralizou entre esses ultrajovens abastados nessa semana.

Intitulado “Quanto custa o outfit“, o vídeo entrevista jovens que falam sobre o valor das suas peças de vestuário. Entre cintos feitos com fitas daquelas de cena de crime e relógios que valem mais que um carro, adolescentes glorificam a ostentação, mesmo sem possuírem um capital cultural compatível ou sequer um trabalho que sustente esse estilo de vida. São jovens que não sabem conjugar o verbo “variar”, mas usam pulseiras de 4 mil reais para ir à balada.

Paralelamente, estamos na rabeira mundial do ranking de P&D, enquanto nossos melhores engenheiros, administradores e profissionais de tecnologia estão se mandando para fora em ritmo acelerado. Todos os dias, perdemos milhares dos nossos “cérebros”.

Veja, é uma equação simples: o tempo de um aluno é limitado. Quanto mais horas ele passa aprendendo sobre diversidade cultural, menos horas ele passa aprendendo sobre matemática, literatura, física, etc.

Como consequência, quando chegam no mercado de trabalho, os jovens descobrem que o resto do mundo não importa os dois maiores produtos brasileiros: textão no Facebook e vídeos motivacionais.

Ninguém lá fora está interessado em debater se devemos usar “x” no final de palavras com dois gêneros, muito menos em acampar no frio para apoiar criminosos condenados.

Lá no primeiro mundo, as pessoas só pensam em uma coisa: produzir. Produção gera riqueza, gera igualdade, reduz a violência e, em última instância, traz mais diversidade social do que de fato ensinar diversidade nas escolas.

Já por aqui, a nova geração estará preocupada em tirar selfies e engajar em lutas contra os canudinhos, enquanto espera que políticos populistas a sustente por toda vida.