12 anos em solidão
Fiz doze anos em solidão nesses dias. Não sei se compro bolo e canto parabéns ou se continuo seguindo em frente como sempre fiz. Desde dezembro de 2008, quando ocorreu a segunda separação de um casamento de mentira, calcado em armações e amarrações, não tive nova oportunidade ou mesmo novidade no amor. Em 2010 pensei ter encontrado minha autêntica alma gêmea num lugar ao sul do país, era quase uma certeza que eu tive, mas certeza mesmo foi de saber que as pessoas enganam e você só reage às enganações ofertadas. O amor em si não existe, senão a necessidade de estar provando diariamente sua capacidade financeira e seu status social para a outra parte. No divórcio, só o que conta é o dinheiro ou o que ele compra, como patrimônios e bens, mas o resto não interessa. Mas assim é também nas relações amorosas, que vale o quanto você aguenta manter a estrutura agradável à outra parte. Do contrário, não há amor que resista. A menos que você seja absurdamente dotado de beleza, mas ainda assim, se ficar se apoiando só nisso sem nada contribuir ficará só. A menos também que sua beleza incrível seja feminina e sua idade seja curta aos cuidados de alguém mais velho e afortunado, neste caso, não bem o amor, mas a paixão pré-paga perdurará e terá o prazo de validade até que suas rugas surjam nos cantinhos dos seus olhos. Percebendo que foi uma decepção me entregar de corpo e alma para alguém de caráter duvidoso, segui a estrada contabilizando os poucos momentos vividos com tal garota como um tempo inglório e vazio de solidão. Ao longo caminho em solidão você percebe os tipos de sentimentos ofertados, dependentes de sua condição financeira para acontecer. Ganha um sentimento intenso e profundo de amores rasos, ora carente, ora estagnado de quem mal conhece a malícia do relacionamento, vivendo de fragmentos de momentos incomuns à realidade que vivem. Não há intenção de compreender a bagagem do viajante, só a necessidade de ser compreendida e cuidada. É cansativo isso, e se não fosse o sexo em si, tudo não valeria nem o primeiro passo em direção do corpo nu. Como eu disse, a bagagem pouco importa, e tudo o que se diz para que haja melhora, se torne mais atraente e que isso culmine em algo mais envolvente não é levado a sério. Então como se envolver com quem tem preguiça de se desenvolver? Não vale a pena, é perda de tempo, só o sexo em si é o que basta, porque a parte desejada não quer saber de nada, então ficará como está, e não irá demorar muito para jogar na cara o quanto se sente abandonada. Tudo igual, tudo igual. Em doze anos de solidão fui mentor, professor, guru sexual, transformador, reinventor de trinta e duas mulheres, que buscaram em mim toda sorte de ajuda em seus interesses pessoais, carências, bloqueios sexuais, dependências e aprendizados sociais. Nunca encontrei uma única que olhasse para minha bagagem e tentasse compreender minhas limitações. Tive doze anos de estrada para entender que o amor mesmo não existe, mas o quanto você tem condições de manter a relação ao gosto da outra parte. Depois de 2010, não mais me dediquei em acreditar no amor. Neste ano de ilusões compreendi que isso tudo é um grande jogo de interesse, e você precisa ter condições financeiras de se manter no jogo, simples assim. Aquele marido amado, com sua S.U.V na garagem, na casa onde sua amada mulher o diz que o ama fortemente, e as crianças pulam em seu colo... pura ilusão. Fique o marido amado sem trabalho que dê conta de sustentar a S.U.V na garagem, a casa confortável com móveis e eletrodomésticos, além das viagens nas férias para ver o que acontece. O amor acaba. Paixões sim, isso é mais fácil de acontecer, ainda bem. Tive muitas paixões pelas quais me entreguei de corpo e alma, e de dinheiro também... muito. Mas paixão não combate solidão, porque são meros sentimentos ardentes e carentes que entorpecem a mente, promovendo encantamento de uma doce ilusão. Pura busca de seus próprios interesses, nada mais diferente do que isso. O bom desse post é que escrevo sem estar revoltado, nem frustrado, mas estou consciente que completo doze anos em solidão. Provavelmente vou seguir os anos adiante em solidão, sem sentir o que é ter o sentimento de interesse em mim, sem que eu tenha que investir antecipadamente algumas centenas a milhar de dinheiro. O que por um lado é desanimador, porque minha conclusão está correta. Você nunca conseguirá atrair alguém, que não tenha que comprar tal atenção pagando algum preço por isso. Volta e meia entro em aplicativos de relacionamentos e isso se confirma grandemente, nem sei o que faço nesses aplicativos se já sei que uma vez estando nesse ambiente ninguém merece cem por cento de crédito, porque todos que neles estão, estão porque sabem mentir e mentem muito bem. A oferta de ilusões é tamanha que quem se ilude acha que está fazendo a melhor escolha, porém não deixa de iludir outros, tornando esses ambientes o verdadeiro inferno de almas penadas. Com doze anos em solidão a fé diminuiu consideravelmente, a crença em Deus e pessoal também. A oportunidade de encontrar alguém que me surpreenda está a quase zero e a chance de me iludir com alguma armadilha está acima da média. Doze anos em solidão me fez enxergar que cachorros e gatos se tornaram crianças nos relacionamentos, são chamados de filhos e tratados como tal. Eles não falam, não formam opiniões, são escravinhos do conforto que recebem e cedem atenção a quem lhos alimentam, tratam e dão carinho. Até nessa relação, se quem tem seu pet não prover desses confortos, principalmente alimentação perceberá que eles também são interesseiros, e está tudo bem. Com a idade que estou e a expectativa reduzindo consideravelmente me desperto para meus próprios interesses, me tornando mais egoísta e menos altruísta, mais crítico, mais seletivo, e muito menos inclusivo. E o que me surpreenderia? Oras, o cuidado comigo, a vontade de me ver feliz, de me fazer bem, de se esforçar para estar comigo, coisas que sempre fiz sem ter retorno, senão cobranças de mais sentimentos, mais atenção, mais presença, mais isso, mais aquilo. É muito fácil cobrar tais coisas, quando se tem alguém que pague o preço em dinheiro para que as coisas aconteçam. Difícil (impossível) é ver a outra parte quebrar o porquinho para comprar as fichas desse jogo. Sem falar em outra coisa que irrita muito e tira qualquer um do sério, que é quando você quer investir na pessoa para ela crescer, melhorar, quem sabe se tornar alguém com representatividade adiante, algum dia, e a criatura não aceita por motivos torpes, num orgulho maior que o próprio tamanho, mostrando uma consciência de classe (baixa) absurda, provando que não é a pessoa ideal para seguir ao seu lado. É, estou cansado desse tipo de experiência, posso afirmar que literalmente que foram todas iguais. Sem levar maiores prejuízos a elas todas, senão apenas a frustração de não conseguirem me amar, segundo minha capacidade de bancar esse amor todo, hoje estou livre, não devo nada a nenhuma delas - que seguiram seus caminhos, e posso tomar minhas decisões investindo apenas em mim, sem pressa, e principalmente sem cobranças.