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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Não alimente os Monstros!

23.04.10, Rodrigo Caldeira

Eu tenho notado o quanto alimentamos os monstros que nos atormentam. Se já é fato que existem, por que os alimentamos? Mas primeiro pergunta-se de que monstros estamos falando? Depois perguntamos de que alimento nos referimos?

 

Sim, a pergunta está correta e é muito propícia que tenham muitas respostas, porém - e certamente - são respostas que convocam a um pensamento novo, resiliente, perspicaz e de coragem. Coragem de parar de alimentar os monstros.

 

Antes de falar dos monstros e do alimentos que eles devoram, preciso falar do que nos condiciona a preferir alimentá-los a ter que mantê-los anoréxos, pálidos e fracos. Essa coisa que nos vicia chama-se "Zona de Conforto". E o que é isso? Estamos constantemente criando Zonas de Conforto para nos acomodarmos nelas. São os comportamentos que mais nos causam comodismo, acomodação, preguiça de nos mexermos, quer seja para melhorarmos ou para deixarmos de ficar ruins, de sentirmos mal ou menores ou piores. A Zona de Conforto está nas coisas mais simples, como um exemplo fácil de entender: o sofá versus o controle remoto da tevê e a distância que a TV está. A Zona de Conforto é o sofá e o controle remoto da TV, porque quando nos acomodamos na macia espuma do sofá e temos um objeto que nos dá o "poder" de trocar os canais, os programas de televisão, estamos deliciosamente presos (física e espiritualmente) no comodismo e conforto. Note que se o canal não pega ou se mostra com uma sintonia ruim, nós não nos levantamos para tentar configurar a receptividade da antena mexendo nos botões atrás do aparelho. Não. Simplesmente mudamos de canal, porque nos é mais confortável (Zona de Conforto).

 

Agora, já sabendo sobre o que é a Zona de Conforto, podemos apresentar os Monstros que acostumamos alimentá-los, diariamente, por muitos e muitos anos. Alguns alimentam sem conhecimento de causa. Outros alimentam sabendo disso e ainda assim não fazem nada para mudar.

 

Os Monstros não são Dinossauros, também não são Crocodilos e muito menos Lulas Gigantes. Não. Os monstros que alimentamos são a Depressão, os Traumas, as Síndromes, os Nojos, os Medos, as Agonias, as Fobias, os Pavores, as Supertições, as Manias etc. São monstros que passam a existir em nossas vidas porque lhos damos espaço, alimentos saborosos e valores inestimáveis. Eu, particularmente, já alimentei muitos Monstros, dos quais não obtive vantagem alguma, só atraso de vida. Não estou dizendo que somos nós que os criamos em nossas vidas, mas se pararmos tudo, isso mesmo, se apertarmos o botão de "pause" do controle remoto de nossas vidas, podemos perceber que realmente esses Monstros vieram justo pois nós facilitamos para que viessem à vida. Claro que não conseguimos controlar isso, mas temos condições de deixá-los famintos, fracos e impotentes, só que não fazemos isso porque nos dará muito trabalho, nos tirará de nossa Zona de Conforto, dos remédios, da "dó" que as pessoas nutrem por nós, do colo e do cafuné que recebemos por sermos mais fracos e menos protegidos.

 

Alimentei todo tipo de Monstro. O monstro do Medo de Escuro, do Medo de olhar debaixo da cama na hora de dormir, do Medo de tomar um fora da menina bonita da festa e tantos outros Medos. Outros monstros como Trauma de altura, Trauma de ver alguém segurar um frasco de álcool perto de uma churrasqueira, a Síndrome do Pânico, as Depressões por relações de amor terminadas, os Nojos de coisas gelatinosas, as Fobias à fécula de mandioca (povilho), o Pavor de alturas, a Mania de pensar que todos estão falando de mim o tempo inteiro. Dei alimentos a todos esses Montros e somente de uns dias para cá é que percebi que os Monstros só atravancaram minha vida, só me mostraram mais fraco dos demais e decidi parar de alimentá-los. Mata-los-ei de fome, frio e sede.

 

Tal qual é o Monstro, o alimento são os valores que os damos excessivamente. Se tenho uma depressão, uma fobia, um trauma, um medo, um surto de pânico dentre outros sentimentos maléficos e que não me elevam à felicidade, acostumei alimentá-los com a divulgação para todos os ventos, para todas as pessoas. O tempo inteiro eu precisava falar das minhas demências e fragilidades, contar o quanto sofria, sofri e sofro, dizer o tanto que sou pior que você, que aquele outro e que todos os demais. Essa divulgação é o alimento que os Monstros mais adoram, pois nutrem seus intestinos com a nossa dependência mental e espiritual que passamos a ter por eles, torna-os fortes, robustos, belos e indestrutíveis. Divulgá-los nos coloca à margem da saúde e os colocam no centro da nossa enfermidade. Fazer propaganda desses Monstros só os deixam mais fortes e a gente fica mais fraco. Mais fracos diante deles, diante de nós mesmos e diante da sociedade. Eu chegava a me sentir bem melhor quando as pessoas me olhavam com pena e paravam um pouco do que faziam para me ceder suas migalhas de tempo e escutar o quanto eu me tornei pior e mais fraco que elas, tudo porque o Monstro estava mais forte, sempre! E muito bem alimentado por minha necessidade de pena.

 

Então decidi atrofiar as tripas dos Monstros, deixá-los com fome e sede, fracos, à beira da morte. Sei que não morrerão facilmente, mas poderei mantê-los na mais terrível anorexia, assim não me farão qualquer mal. E o pior é que estou tão, mas tão acostumado com essa Zona de Conforto de atrair o sentimento de pena, de dó das pessoas, que até para conseguir uma paquera lá estou eu dizendo o quanto sou um coitado, que a Depressão me fez perder 43kg em dois meses, e que isso e que aquilo. Daí arregalo os meus olhos para mim mesmo e penso: "Êita Ferro! Olha eu aqui me fazendo de pior e mais fraco de novo! Que merda!", então me esforço para mudar de assunto e tirar o prato farto e saboroso de alimento da boca do Monstro. "Ele (o Monstro) que se arrebente pra lá!", penso. Quando sinto que o Monstro toma a frente de minha mente e de minha voz, começo a falar o quanto sofro e o tanto de dó que gostaria que a pessoa que me ouve tivesse de mim. Quando o Monstro vem e me pega de surpresa, avalio a força que ele tem e tomo as decisões de confiná-lo no meu silêncio sem alimentá-lo. Toda vez que passo por uma pessoa e não faço publicidade da força do Monstro, ele enfraquece de fome e eu me fortaleço de amor-próprio. Mas agora estou treinando a confrontar o Monstro e sua fome terrível por publicidade. Já venci algumas vezes, mesmo que ficasse um sentimento vazio e uma vontade louca de clamar às pessoas o quanto sou fraco, pior que elas e que tivessem pena de mim, me olhassem com olhar terno e atencioso. Estou atento para qualquer manifesto de carência que me vier à mente. Estou ficando bom nesse negócio de parar de alimentar o Monstro e já consigo encará-lo tão logo ele começa a dominar a mim ainda inconsciente. Claro que vez outra o Monstro vence e se alimenta de minha divulgação, mas tenho notado que ele emagreceu um pouco mais depois que comecei a entender que devia parar de alimentar os Monstros.

 

Como emagreci muito passei a seguir um plano de ganho de peso e toda vez que sinto que vou alimentar um Monstro, dou um "pause" nele e vou eu, sozinho, para a cozinha e junto os ingredientes para fazer uma vitamina de iogurte de banana com maçã, uma xícara de leite de soja, uma xícara de leite de vaca, uma outra xícara de iogurte com sabores, três colheres de sopa de farinha lactea, mais três colheres de sopa de granola, um pouquinho de adoçante e deixo bater por mais de 3 minutos. Então eu tomo para ganhar calorias. Depois que eu estiver com o peso ideal, vou trocar as vitaminas e lanches excessivos por maquinário de musculação, então farei isso por vários motivos: Para não dar chance ao Monstro de aparecer e se divulgar através de minha boca, para sair da Zona de Conforto de tudo na minha vida, produzindo energia, suando e proporcionando bem-estar ao meu corpo, também para ficar forte, com músculos mais definidos e parecer cada vez menos com meu sofá. O Monstro.... que ele morra de fome!

 

E assim eu deixo de alimentar os Monstros em minha vida. Porque a vida fica muito mais leve, mais gostosa de viver quando os Monstros não estão fortes, alimentados e maiores.

 

É isso.

 

 

Rodrigo Caldeira


Ensaios resilientes de superação e perseverança.

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