Quem virá para preencher?
Quando temos uma relação rompida, quer por vontade, quer contra nossa vontade, e depois que atravessamos nosso deserto ou quando ainda estamos atravessando esse extenso deserto, uma viagem solitária pelo luto da perda de um amor nos deparamos com uma pergunta silenciosa que custamos querer ouvi-la e até de reproduzi-la em voz alta: "Quem virá para preencher?".
Certamente não é a pergunta real que vem, mas ela fala por aquelas tantas outras como: "Ficarei só?" ou "Será que vou amar novamente?" ou ainda, "Será que alguém vai querer alguém como eu na condição em que me encontro?".
Quem virá para preencher a solidão do meu sentimento?
Quem virá para preencher o vazio que está a casa de meu coração?
Quem virá para preencher o silêncio que emudece os ouvidos do meu espírito?
Quem virá para preencher com cores o cinza e branco de meus dias sem razão?
Essas perguntas martelam a mente por mais que não se queira ouvi-las e por mais que sejam coerentes, apesar de difíceis de serem respondidas, elas existem e nos retrucam o tempo todo.
Mas dependerá do que? De quem? Quanto tempo ficarei na lanterna dos afogados à espera de um milagre, de um salvamento? Um ano? Dois? Quatro ou Cinco? Talvez dez anos, quem sabe nunca mais... E dependerá do que? Dependerá da minha vontade? Da sua? Quanta confusão!
Certamente é mais uma chance que ganho para fazer aquilo que tanto gostaria. Lembro-me que numa situação embaraçosa do convívio com a parte que um dia eu amei surgiu-me na mente um pensamento rápido de uma possível nova chance de recomeçar, apesar que meu ego maior, aquele que chamam de superego encarregou-se de destruir minhas vontades e pensamentos, como se suspirar um pouco a vontade de recomeçar fosse mais que um pecado, fosse sim um crime.
Eu sei, essa é uma nova chance de recomeçar, mas com quem? Como? Dependerá do que? De quem? De mim? Oh não! De mim não! Não sou mais capaz disso, nem confio mais na minha própria capacidade de sustentar um amor permanente, preciso que alguém dê o primeiro passo e seja alguém que me faça dar muitos passos para me agarrar nesse novo sentimento. Mas quem? Como? Não sei. Sinceramente não sei.
O jeito é esperar e não desejar as pessoas a todo instante, por toda parte. Mas esperar pelo o que? Qualquer coisa ou pessoa pode ser o estímulo para nos dizer que é o amor renascendo? Claro que não. Então se não tem um sinal, um macete, alguma maneira de ser avisado, como será que conseguirei? Já me disseram que só descobrirei o amor quando eu me der para o amor. Mas como alguém se dá para o amor sem saber como amar novamente? E me responderam que é ficando com as pessoas que transmitam algum tipo de conforto, então estarei me dando para o amor, porque o amor não tem um conceito que o defina ser o mais correto, não há uma única resposta. Me disseram que o amor se treina, não se encontra pronto e mesmo que não sejam as pessoas as que nos amarão por toda a vida, isto é, que ficarão conosco por todo tempo, mesmo assim terão feito parte do renascimento do amor. Ainda concluíram dizendo que o amor ficado é um amor degustado, que só faz bem a quem o dá de coração aberto e o recebe na mesma harmonia.
Então que assim seja..
São reflexões assim que assustam as pessoas dependentes de amor, porque faz pensar no indeterminado, no novo e no diferente. Então eu fechei-me para desfrutar da vida de recém-solteiro, estou reaprendendo a viver comigo mesmo, sozinho, donde minhas opiniões finalmente são ouvidas e minhas escolhas também estão sendo aceitas sem cara feia, carranca, mau humor e um dia daqueles bem ruins. Tenho me perguntado o que quero fazer, o que não quero, o que preciso e o que é fútil. Aprendi a cozinhar, faço o arroz, passo a carne, lavo as vasílhas, bato a vitamina, cuido de mim. Tudo parecendo que ando sendo visto e ouvido. O interessante de tudo é que ouço uma voz, a mesma que ouvi nos momentos mais desesperadores e bem próximos de uma tentativa de suicídio em junho de 2009. Essa voz que não sei de onde vem, mas também não me assusta mais, tem m timbre suave, brando e excessivamente tranquilo. Uma voz que diz que tudo dará certo, que não devo me preocupar e que devo cuidar de mim mais do que ficar preso aos pensamentos do passado, também do presente e principalmente do futuro. E o que me chama a atenção é que tenho obedecido muitas vezes essa tal voz.
Às vezes pareço um louco e discuto com essa voz serena algum desapontamento, provoco uma reflexão entre mim e a voz, mas me contenho tão logo alguém me denuncie para algum hospício. Minha vontade era bater boca e vencer a voz na canseira. Ouvir e obedecer na maior parte das vezes essa voz tem dado a mim segurança e tranquilidade. Isso é bom, para quem estava à beira de ceifar a própria vida (isso sim seria loucura) é um achado, um presente do Céu.
Então pergunto sem querer perguntar - já que o pensamento mal precisa que abramos a boca para fazer perguntas, basta-nos pensar em pensar que vamos pensar em algo e o cérebro já está formulando perguntas, respostas e saídas - e essa voz me responde a mesma coisa sempre: "Tenha calma, você não ficará sozinho e a pessoa que é sua verdadeiramente está sendo preparada para você, exclusivamente. Ela vai encontrar você, não é você quem a encontrará, acalme-se!"
Isso me excita e me amedronta, me desconforta e me provoca muitas coisas. Sinto medo também, medo de não gostar do "presente" providenciado pela providência (divina?), mas quando será isso? Como ela será? Realmente isso me incomoda.
Será como uma amiga piadista me disse certo dia, que o amor em mim seria despertado mesmo se a "prometida" for uma banguela, vesga, de pé torto e com tiques nervosos? Ai, não sei, acho que não vai rolar desse jeito. Não é possível! Melhor pensar noutra coisa...
Quem virá para preencher?