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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 1.306.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Ano sabático: Voz de Prisão

11.03.16, Rodrigo Caldeira

Eu sou o autor, o ator e o espectador de mim.

Vivemos em constante evolução, a pressa vem dos ponteiros do relógio, que se apressa pelas folhinhas do calendário. Os dias passam, as horas voam e o tempo nos envelhece nas marcas de nossa pele, as manchas são mais insistentes e em nossa barriga a pele se dobra mais do que se dobrava há anos atrás. Isso nos fadiga e até nos acomoda de tanto nos vermos assim, que já não nos incomoda tanto mais. Linhas de expressão no rosto, a pele parece ficar mais mole e fina, cabelos caem mais do que de costume e nosso bocejo parece ser uma terapia profunda e deliciosa de ter. O raciocínio acelera, a velocidade do amanhã chegar já é ontem e hoje estamos diferentes. Quem fez cursos, fez. Quem se especializou, especializou-se. Quem não fez cursos nem especializou-se fica para trás. Mas atrás de quem? Tem que chegar à frente de quem? A competição começou ao ritmo de alguém, mas ninguém sabe porque se trabalha tanto, se corre tanto. Tudo isso é para que mesmo?! Aplausos, medalhas, reconhecimentos, tapinhas nas costas, convites de casamentos para ir, festas aqui e ali, presentes, roupas e sapatos, enfim, um carro, dois talvez, três se der. Viagem marcada, vai com mala cheia, volta com a mesma mala cheia e bagunçada, mais cansado e com menos dinheiro. Tudo o que importa é ralar mais para fazer tudo isso de novo, e sem um motivo coerente. Toda informação captada é para aumentar a velocidade do ritmo e acelerar o processo. Mas qual informação é útil e qual você está se enchendo de besteiras? O que você realmente veio fazer na Terra? Sobreviver? Curtir? Tirar onda de bacana? Se matar de tanta escravidão? Provar alguma coisa para alguma sociedade? Afinal, para que você está no planeta Terra? Bom, uma resposta convincente é a de que você tem que aprender a viver com a sua inteligência. Tem que ser útil o suficiente para não ganhar nada em troca de sua utilidade. "Quem não vive para servir, não serve para viver", já diz o ditado popular. E é isso mesmo, qual sua real missão na vida? Dormir, acordar, comer, trabalhar, estudar, malhar, pegar ônibus, metrô, carro para chegar, depois sair, depois voltar, comer e deitar para acordar, comer, trabalhar e por aí vai?! Que ser mais inútil seria se fosse assim (ou se ainda é assim). Seja útil, você precisa prestar para alguma coisa não remunerável. Por todos os lados que olho, para tudo que vejo há pessoas pra todo lado, de cima abaixo gente andando, pegando filas, parada em semáforos, entrando e saindo de estabelecimentos, a vida não pára. Revolução industrial, analógica, digital e internet. Qualquer um pode ficar famoso no YouTube, qualquer um pode andar de skate. Gírias, várias línguas, raças e credos. Todos têm destinos para irem, regressos ao voltarem, e muito pouco se faz algo sem a intenção de receber de volta. E sua missão? Que função você terá nesta vida se ser inútil não tiver um prazo para acabar? Ser útil remunerado não é ter utilidade. É por isso estou dando voz de prisão para mim mesmo! Na prisão não temos para onde ir senão ficar no mesmo lugar. Se tivermos boa cabeça aproveitamos melhor o tempo enclausurado. Dar voz de prisão para mim me diz que estou me permitindo ser dono do meu tempo, envelhecer se eu quiser e me instruir na arte do saber. Repensar meus valores com base nos meus princípios, gerir meus conceitos e digerir minhas culpas. Meu ano sabático não me pede longas viagens, passeios distantes, demora numa estrada caminhando eternamente. Meu ano sabático me pede educadamente que eu seja dono do meu tempo, senhor do meu aprendizado e reencontrar o meu eu perdido dentro de mim propositalmente. E hoje me dou voz de prisão. Na cela de minha consciência começo um retrocesso introspectivo, gradativo, demorado, cada vez mais silencioso, muito embora o silêncio fala mais alto quando me calo e sou obrigado a escutar tanto barulho em sua profunda surdez. Há quem não aguente o silêncio, porque ele diz muitas verdades. Na cidade de minha mente há santos e demônios misturados, precisam de se separarem para dar certo. Meu primeiro ano sabático começa hoje e da pior maneira possível. Antes se eu pudesse ensaiar, mas depois de disfarçar que meu ano sabático seria apenas uma maneira de dizer que não estaria disponível, tenho o começo dessa jornada dizendo a mim mesmo a verdade que preciso ouvir. E mais do que ouvir, preciso responder. E isso me revolta, porque estou com um sono irritante, uma dor de cabeça pela fadiga mental de horas acordado e raciocinando, são cinco e quarenta da manhã e minha perna direita não pára de balançar, pular, sei lá. Mas é hoje que assumo meu primeiro ano sabático, sem radicalizar, nem me tornar vítima. As coisas se acalmarão sutilmente, cada coisa no seu lugar e cada lugar com sua coisa, assim serão meus pensamentos e comportamento. Na cadeia de mim vou aproveitar para cultiver minha paciência, equilíbrio emocional e saber mais sobre o meu duplo etérico: Para que eu vim e por que eu me fiz essa pergunta. Quero compreender meus sonhos, observar a vida em mim, meu conhecimento e minha seriedade. Quero poder pensar sem parar, sem tirar trégua. Refletir situações, ler livros e deixar meu cafofo minimamente limpo e organizado. Mesmo devagar quase parando, esse processo é pessoal e intransferível, principalmente porque, agora, preciso me adaptar à vida. Só preciso deixar esclarecido que o período sabático não é exatamente um momento para se tirar pessoas da nossa vida, mas sim de colocá-las no lugar certo dentro de nosso viver, de modo que uma não se conflitue entre outras coisas ali relocadas. Dessa maneira terei mais espaço sobrando para circular por entre meus cômodos mentais, desfrutar do prazer da organização e deixar os ambientes arejados nos vãos de minhas escolhas.

12/03/2016 - 04:59h
1º dia como prisioneiro de meu tempo:
Comecei ontem meu ano sabático, estou fazendo-o onde estou, onde vivo. O primeiro dia foi terrível, o segundo será terrível também, já sei, espero começar de fato no terceiro dia. Tirar um período sabático viajando é mais confortável, divertido e até mais fácil, mas fazer isso onde se está é muito complicado, afinal o mundo não vai parar para que você se interiorize e se reinvente. É tudo junto e misturado, frenético, ao mesmo tempo, sem trégua. E não dá para avisar às pessoas que você deu "voz de prisão" para si mesmo, porque, além de ninguém entender, ainda vão pensar que você ficou doido de vez. É incrível como viver seu período sabático onde você mora, em meio às pessoas com quem você convive é de um grau de dificuldade imenso, porque é um misto de silêncio em si com um barulho ensurdecedor lá fora, das pessoas falando com você, gente te procurando para falar, se aconselhar, passar serviço, pedir ajuda. Administrar isso é punk, é como se tivesse que desligar parte dos sentimentos, anseios e desejos para conseguir digerir o silêncio que grita pedindo introspecção. Anunciei aqui no meu blog, uma experiência que compartilho com muitos, de certo nem no blog devo ficar voltando à medida que eu mergulho para dentro de mim. Deveria ter feito isso há muito tempo, aos 24 anos, quando tomei conhecimento desse período de interiorização. Hoje com 45 estreio da pior maneira possível, mas se não começasse ontem não começaria nunca mais. Estou feliz por ter me decidido, agora é só uma questão de adaptação e harmonia. Tudo dará certo, devo confiar. Nesse primeiro dia de ano sabático não consegui entrar na cela do meu tempo, não organizei nem reorganizei nada. Aliás, não fiz nada em prol de estrear meu ano sabático. Pensei que seria mais fácil... Chateado comigo resolvi fuçar no Google algo sobre o tema, talvez encontrar uma motivação, e li isto: "Um período sabático faz parte dos planos de muita gente, mas poucos são aqueles que o colocam em prática. Na maioria das vezes, por acharem que se trata de algo inacessível – tanto do ponto de vista prático quanto do financeiro. Mas mesmo no Brasil, onde o conceito ainda não é tão difundido, a experiência mostra que uma pausa pode ser totalmente viável – e transformadora. Um tempo para si mesmo é fundamental e muitas pessoas o tratam como se fosse um grande luxo. Não é. É saudável descobrir-se outra vez, pensar sobre decisões a serem tomadas, sentimentos a serem vividos”, diz a psicóloga intercultural Andréa Sebben. O afastamento sabático surgiu nas universidades, que passaram a conceder licenças de um ano a seus professores a cada seis lecionados. Não demorou para o conceito ser incorporado pelo mundo corporativo como um benefício que a empresa dá a executivos com determinado tempo de casa. Ao fim do intervalo, é assegurado o retorno ao cargo" (http://www.santoirish.com.br/voce-sabe-o-que-e-o-periodo-sabatico/). Muito embora eu tenha falhado no meu primeiro dia do meu primeiro ano sabático, amanhã, quero dizer, hoje será o segundo dia. Ninguém me disse que seria fácil, aliás, quase ninguém sabe o que significa ano sabático, um conceito que ouvi falar por volta do ano de 1994, lendo um livro do Og Mandino, no metrô que fazia a linha Consolação/ Paraíso, em que desci na Praça da Árvore, em São Paulo, Capital. Eu tinha lá meus 24 anos e só agora com 45 é que me dei conta que deveria ter feito meu ano sabático há dez anos atrás, pelo menos. Não é fácil começar um ano sabático em casa. Muitos fazem isso viajando, o que é muito mais fácil e divertido. Mas escolhi o mais difícil e complicado: parar a nave espacial da minha vida no mesmo lugar que estou e administrar tudo ao meu redor para que não interfira nisso em mim. Em outras palavras: é foda! Bom, assim como um hábito é muito difícil de torná-lo costume até que se torne hábito, iniciar meu período sabático irá requerer de mim mais do que perseverança e foco, mas muita fé. Então tá, com certeza meu segundo dia também já foi para o espaço, já que vou ficar com sono o dia inteiro, quiçá o terceiro dia seja promissor. Cristo ressuscitou no terceiro dia, vai que pra Ele também foi meio complicado se adaptar à ideia. Não, não estou fazendo piada, estou sendo reflexivo, oras, afinal, ressuscitar no terceiro dia e não no primeiro, já que o tempo de Deus não é o nosso tempo, enfim, esquece o que eu disse, vou nessa. Fui. 

15/03/2016 - 23:58h
4º dia como prisioneiro de meu tempo:

Frustrado. Este é o sentimento que me traduz hoje. Não consigo compreender por que está sendo tão difícil engatar e seguir adiante. Parece... sinto que realmente me dei voz de prisão, é um sentimento de angústia durante todo o dia, é como se um mundo de inverdades ou falsos valores estivesse se desmoronando sobre minha cabeça, não sei dizer quão estou incomodado e decepcionado comigo. Não me admira entender que não é nem um pouquinho prazeroso viver o período sabático, não sei se darei conta disso, que parece ser uma atitude invasiva do meu viver. É incrível como o mundo à minha volta ficou colorido e eu sou inteiramente cinza. Se dar para seu momento sabático tem uma energia impactante de responsabilidade universal, e eu não sabia que isso fosse tão sério ou simplesmente real. Não é coisa do capeta, não é coisa do signo, não é nada do além: sou eu, é comigo! E a isso é muito ruim. Estou lendo "O Príncipe" de Maquiavel, também estou lendo o "Desperte o Gigante Interior", de Anthony Robbins, além de outros estudos, muito conteúdo que me leva a reflexões da minha própria vida. Eu acredito que fiz tudo errado, mas se fiz certo, então alguma coisa saiu errada. No que reflito sobre ter ajudado muitas, inúmeras pessoas, eu hoje reflito se isso fez realmente bem a alguém, ou mesmo se fez bem a mim. Não dá para mensurar o quanto estou chateado com as verdades que surgem dentro da cadeia de minha consciência. Acredito que ninguém começa uma caminhada, ninguém inicia uma jornada pelo seu deserto interior sem entrar em pânico com o começo disso tudo. Acredito também que eu devo me estabilizar nos próximos dias ou semanas, porque estou perseverante, muito embora não pareça estar na minha opinião de mim mesmo, e se não estou, estarei. Amanhã, isto é, hoje, dia 16/03 vou recomeçar ironicamente o que nem foi começado de fato, mas voltarei ao ponto de partida e recomeçarei. É bem verdade que estou desejoso de dar um fôda-se para essa ideia de ano sabático, mandar todos os meus valores para a putaquepariu e voltar à minha vida de ilusões e autossabotagens de sempre. Só que, cara, não posso. Não posso, porque eu já fiz isso por muitas vezes, apesar que fiz sem perceber que estava fazendo. Agora eu percebo, eu vejo e sinto. Agora dói e me incomoda, e me entristece, mas de alguma maneira me fortalece, não sei dizer bem, mas ao mesmo tempo que me sinto fraco por não conseguir começar meu ano sabático, alguma coisa em mim, um ponto no meio da minha testa esquenta a ponto de doer minha cabeça e meu coração acelera, e eu sinto, e eu digo para mim mesmo, cara você pode, não desista. Eu sinto forte que não usei nem 10% do meu potencial de transformação, covardemente estacionei nos meus quase 9% e nele me acomodei. Eu tenho o direito de botar pafudê na minha capacidade intelectual, eu mereço conquistar o auto-orgulho e o amor próprio. Bom, amanhã começ, quero dizer, hoje começo, aliás, recomeço de novo e mais uma vez. E se você está pensando em ter seu ano sabático saiba que não é nenhum pouco divertido nem fácil viver isso dentro de sua casa, na sua cidade, entre os seus. Agora, se você quiser viver isso como Julia Roberts no filme Comer, Rezar, Amar sugiro que junte uma boa grana para sair por aí mundo afora. Certamente é mais fácil e mais prazeroso, porque ficar onde você está e se reinventar é sinistro. Vale essa leitura retirada do "Curioso caso de Benjamin Button (The curious case of Benjamin Button)", que vi por acidente aqui no meu próprio blog num post de 08/07/2009:

"Se quer saber, nunca é tarde demais para ser quem você quer ser. Não há limite de tempo, comece quando você quiser. Você pode mudar ou ficar como está. Não há regras para esse tipo de coisa. Podemos encarar a vida de forma positiva ou negativa. Espero que encare de forma positiva. Espero que veja coisas que surpreendam você. Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes. Espero que conheça pessoas com pontos de vistas diferentes. Espero que tenha uma vida da qual se orgulhe. E se você descobrir que não tem, espero que tenha forças para conseguir levantar novamente. Nada é eterno."

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