Camões talvez tenha se confundido com o amor...
Me cansei de lero-lero, como já dizia Rita Lee em sua música "Saúde", e vim aqui reivindicar a atenção para o poema de Luís Vaz de Camões, em que, ousadamente, me oponho à sua interpretação. Poderia dizer que, à época de sua composição literária, nos anos 1.500, a humanidade não tivesse uma segunda definição para os sentimentos, cuja palavra "amor" servisse para definir todo sentimento de cumplicidade e envolvimento entre pessoas. Possivelmente, Camões, não errou ao expressar-se sobre o amor como toda a versão dos sentimentos naquela época, mas na era moderna, essa definição já deveria ser remodelada. O soneto é lindo, de fato, mas não está atualizado, convenhamos, e vou mostrar o motivo. Primeiramente vou apresentar o soneto, retirado do blog "Cultura Genial", sob a análise de "Rebeca Fuks", doutora em estudos da cultura.
Amor é fogo que arde sem se ver é um soneto de Luís Vaz de Camões (1524-1580), grande escritor português, autor de Os Lusíadas (maior poema épico da língua portuguesa). Camões nasceu em 1524 e morreu em 1580, provavelmente, em Lisboa.
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo AmorEntão, como se pode ver, Camões não está falando o Amor propriamente dito. Acalme-se, não se antecipe em me julgar, estou fazendo uma análise sem drama. Camões está se referindo unicamente à "paixão". Só e somente só a paixão provoca na pessoa toda essa reação. O amor é contemplativo, é consciente, é brando, pleno, perseverante, justo e acolhedor. O amor é fogo permanente, mas não é ferida que dói, porque o amor é a cura que restaura. O amor não é dor, é anestésico. Por amor cristãos foram devorados pelos leões, queimados vivos, torturados. Por amor os pais suportam as limitações do filho, sua deficiência, sua anomalia. É o amor que abranda a dor. O amor não se prende, é livre por sua natureza e não serve o vencedor, porque o amor é a própria vitória, não serveria a si mesmo, nem se quisesse, porque o amor é doação, é entrega, é multiplicação de socorro, de cuidados. O amor não é solitário, porque o amor contagia, conquista corações. Tudo o que Camões está se referindo é à paixão, e nada mais. E eu já abordei sobre isso em 03.10.2016, em resposta a um e-mail de um(a) leitor(a) do blog. Lá eu discorro detalhadamente sobre a paixão, então pode valer a pena conferir: Amor X Paixão.