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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Depois de 8 anos

17.04.16, Rodrigo Caldeira

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É fato que nada melhor do que o tempo para apagar dores e mágoas, traumas e pesadelos. Ficamos mais tempo ruminando arrependimentos do que renovando sentimentos, simplesmente porque nos tornamos nosso pior inimigo. Nos denunciamos, julgamos e nos sentenciamos - muitas vezes à morte ou à prisão perpétua. Quando isso acontece na ruptura de uma relação amorosa num namoro ou casamento temos três caminhos a seguir e todos eles fazem muita diferença. Podemos nos afundar numa tristeza interminável nos açoitando a consciência da alma, tirando-nos qualquer permissão de felicidade, alegria, sorriso e colorido. Nos isolamos, somos maltratados por nós mesmos, rasgados e costurados de formas erradas para termos o desafio de reaprender a viver com a nova estampa. Nos engolimos, vomitamos, retomamos a nos engolir e a vomitar novamente, num looping sem fim. Nos abandonamos nos bancos da praça, somos esquecidos por nós mesmos na cama, o relógio não faz sentido e as horas não servem para nada. Esse caminho é doloroso, assombroso e mal. A culpa nos é a pior tortura e a dúvida é a inquisição da alma, que persegue, amedronta, alcança e nos prende nos calabouços profundos e escuros de nossa fortaleza ainda de pé. Vez outra cumprimentamos a Morte e até conversamos com ela sobre a vida. E na inconstância dos momentos repetimos tudo pelo tempo que não importa mais. Podemos não fazer nada, fingir que estamos vivos e levamos uma vida normal. Forçamos a barra em trabalhos extendidos, exercícios físicos aumentados em peso e séries, nos envolvemos com pessoas de qualquer natureza, vestimos a túnica de um necroman e zumbizamos por aí sem se importar com o mundo, e as pessoas são só outros mortos-vivos. Nada importa, nada interessa. Ligamos o automático e vivemos segundo para onde a maré direciona. Desligamos o bom senso, a formação de opiniões, a sociedade e o interesse por nós. No medo de nos entregarmos para a realidade e sentir suas piores sensações nos mais tristes sentimentos. Nos fechamos em nossa angústia e desligamos a luz do auto se perdoar. Não queremos incomodar nem sermos incomodados, senão por quem se lembrar da gente. E por fim podemos nos iludir que a vida continua, a fila anda, há muita gente disponível, devemos malhar, suar a camisa. Nos divertimos, cantamos, pulamos e falamos alto porque estamos geralmente possuídos pelas gargalhadas de uma fé irônica e muito hipócrita. Eu optei pela primeira forma de viver a vida a partir da ruptura de uma relação, que simplesmente me desestruturou por oito anos. Tive alguns intervalos de paixões, mas logo desfeitos por ações cruéis ou cretinas, ora da parte 'delá' (dela e/ou de lá), ora da parte 'de cá'. É humanamente impossível se reerguer de um processo como de uma separação conjugal, que não seja após muita reflexão, muita calma e um bom tempo. Depois de oito anos pude refletir muito sobre o porquê do falimento de minha relação, também acompanhei através deste blog a vida de muitas pessoas desamparadas e mal informadas sobre suas angústias, as aconselhei - segundo minha maturidade que aos poucos e lentamente eu adquiria. Escolhi me permitir refletir por tanto tempo, pois quando você opta por virar a página sem refletir, sem ruminar para digerir melhor, mais adiante você cai no mesmo erro. E isso eu aprendi outrora. Nesse deserto que atravessei pude tirar pessoas da fossa, conduzir moribundos para sair da depressão, interagi com suicidas (muitos!) e descobri a vida através deles. Vivi oito anos devoto ao sofrimento, à culpa, ao medo e ao ostracismo. Eliminei radicalmente toda linhagem de amigos antigos e vi que ninguém morre sem eles na vida, pelo contrário, fazendo isso me poupei de gente que só me trazia mais angústias, quando inocentemente ou não me traziam notícias das ex-amadas ou suas felicidades. Me livrei também dos amigos inimigos, aqueles que demostravam amor por mim, mas não me faziam esquecer o quão no fundo do poço eu me encontrava... vaidosos. Não teve um dia sozinho que não tenha parado de refletir no que deu errado, até onde seria culpa minha, até onde seria delas. Jurei blindar meu coração com armadura e cadeado para não mais gostar de alguém, sob risco de novos riscos. O interessante é que o seu corpo muda, tudo acontece nesses oito anos, você envelhece muito rápido. Não valeu a pena tanto desgaste, quedas de cabelo e má alimentação. Concluí que fiz tudo errado do modo certo, porque esqueci de mim. Depois de oito anos cái a ficha e você percebe as mudanças que estouraram em sua vida. Perde-se muito dinheiro, também a dignidade e o amor-próprio. Blindar-se não parece ser a melhor decisão, mas deixar o coração a couro nu também é se expor a novas chagas, e o interessante é que cada novo sofrimento ora perde força porque nada mais te surpreende, ora fica mais forte quando se cansa de tanta solidão. Então, pelo sim, pelo não... blindar se torna uma proteção que brinda o conceito de pecar pelo excesso. Depois de oito anos entendi que realmente nada acontece por acaso e que existe um propósito por trás de todas as coisas, que a mínima ausência de alguém é a predisposição de um rompimento no futuro, um aviso prévio de que a relação não dará certo se não houver uma nova definição de valores entre o casal. Que sofrer pela pessoa que te abandona é fazer um cheque em branco para ela gastar a benefício próprio. Aprendi que homens misóginos não têm cura, e mulheres misândricas também não, que existe sexo-social e sexo-íntimo. A duras penas aprendi que não há chances para um sentimento de paixão exterminado, não há orações nem simpatias, que a ruptura, quando acontece se faz valer pelo o quanto você deixa de ser interessante social e financeiramente, não pelo o quanto você é uma pessoa legal ou atraente. O capitalismo define quem você é e o que representa numa relação amorosa. Tive o privilégio de entender que ninguém tem o poder de mudar alguém e esperar dela gratidão e reconhecimento, geralmente recebe em troca desprezo e menor valor. Isso se dá porque a parte que ama mais também ama melhor, e a parte amada geralmente se envaidece e olha para seu próprio umbigo, se sente melhor e fortalecida, não precisando mais da estrutura da parte mais forte (que agora e para si se torna menos forte ou mais fraca) e o desafio se faz presente como um combate de sobrevivência pessoal. E sempre a parte patrocinadora, isto é, aquela que sustentou e empoderou a parte mais frágil não se protege nem se defende de sua 'criatura', que a dilascera sem pensar duas vezes. Pude perceber que não existe cumplicidade entre um casal, quando uma parte tem um histórico de sucesso menor do que a de seu parceiro e que a união é mais um desafio de provas do que uma necessidade de somas. Depois de oito anos aprendi que não é bom contar para as pessoas sobre o sofrimento que se sente, pois o olhar piedoso, o tapinha nas costas, o ombro amigo é só uma maneira de diminuir ainda mais seu valor e sua grandeza, e que aquele que te escuta não deve pôr a mão nos seus ombros enquanto você está sentado e ele de pé, pois a energia disso é muito ruim. Preferencialmente que as posições estejam trocadas, isto é, quem sofre deve ficar mais alto e quem afaga deve ficar mais baixo. Aprendi que as pessoas vão sumir quando você cair, e vão ressurgir quando você se levantar, é a lei dos interesses e está intrínseco em todos nós. Depois de oito anos eu me levanto da poltrona da reflexão, deixo-a vaga para quem ousar sentar nela. Saio do ninho das observações e apreciações da vida e entro no meu ano sabático para fechar questões, instituir valores, concluir significados e recolorir o futuro para me tornar igual a pessoa que eu gostaria de conhecer, para que no final desse estágio eu possa ser apenas a gratidão em pessoa e nada mais.

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