Desde sempre, é a beleza que vende.
Vejo muitas pessoas dizerem sobre o quanto se sentem sozinhas. Constantemente tem alguém murmurando que vive em solidão a anos, triste, isolado, desmotivado. Uns buscam nas drogas ou nas bebidas alcoólicas o entorpecimento de seus cérebros, a fim de que parem de enxergar suas mazelas pessoais, porque dói demais ser seu próprio inimigo e não ter coragem de sair de sua zona de conforto para mudar esse cenário. Eu mesmo tenho feito isso comigo por longos anos. Eu mesmo menti pra mim. O ruim disso é que não bebo nem me drogo, então minha mente metralha meu ego e me põe espelhos por todo lado que eu me vire. Prefiro assim, jamais usei artifícios para minha mente viajar e eu fugir dos impactos de minhas escolhas ruins, porque a pessoa viaja com entorpecentes e bebidas alcoólicas, mas num momento adiante volta à realidade - que sempre esteve lá - e muitas vezes encontra o cenário pior do que deixou a poucas horas antes. Eu tenho o conceito de que estamos vivendo num mundo de propaganda, aliás, sempre vivemos este conceito, desde a mitologia grega, o tempo todo nos salta aos olhos essa verdade. Ninguém compra nem ideia nem um par de sapatos num lugar feio, com alguém feio, tampouco um sapato feio. Tudo precisa estar agradável aos olhos primeiro. Nos primórdios da fé, penso que João Batista seria um homem que andava esculhambado, pois seus valores não eram materiais, e sim espirituais. Mas hoje não se vê homens da fé aos moldes desse João, que anunciou a vinda de Cristo. A beleza é vendida em tudo, nos animais, na fachada da casa, na roupa que se veste, no penteado do cabelo, na maquiagem, no cargo num trabalho, em tudo se busca a beleza, até no alimento que se põe no prato. E não penso que seja errado, pois é o rumo que a humanidade sempre seguiu: a aparência. A natureza se perpetua dessa forma, os animais chamam atenção pela beleza que possuem, as flores, tudo o que há tem seu ajuste de beleza. Estamos em busca do que é belo pra gente, mas dizemos que nos aceitem como somos. A vida não permite esse tipo de desajuste. Ainda que se aceite o feio, algo de atraente e belo tem em sua aparência. Vê-se em rostos feios, e corpos bonitos, e vice-versa. Sempre terá alguma singela beleza latente ou discreta na parte aceita. Geralmente, as pessoas que levantam a bandeira do conceito de que elas devem ser aceitas como são, porque se não for assim o sentimento não é verdadeiro é, com certeza, um blefe dos menos honrosos possíveis que usam, como um jogo de cartas, blefam mentindo sobre si mesmas e querem que acreditem nisso. Pessoas que fazem uso dessa justificativa são aquelas que se dizem não ser interesseiras e nem exigentes, mas esquecem de que deveriam ser, antes de qualquer coisa, interesseiras e exigentes com elas mesmas. Pessoas seletivas se dividem em duas características: as que sabem porque selecionam e as que não fazem ideia que estão se autossabotando. As que sabem porque selecionam são aquelas que exigem de si para dar o seu melhor e querem, por direito de conquista, o melhor para si também. Uma troca justa: "-Eu exijo de mim por interesse de ser aparentemente melhor e atraente, e é justo que quem me quiser terá que ser exigente e interesseiro consigo mesmo". Já as que não fazem ideia do porquê são seletivas, são as que se autossabotam com o conceito: "-Eu exijo que aquela pessoa bonita goste de mim como sou, porque se não for assim não será com sentimento verdadeiro", então vivem se alimentando de uma ilusão, uma incoerência. Não exigem de si e nem têm interesse de arrancar de suas entranhas preguiçosas a força que precisam para sair da zona de conforto. Preferem se vitimar, sentir pena de si mesmas e ficar alí, estacionadas enquanto o mundo evolui e se desenvolve freneticamente. O tempo passa, os anos passam, e aquelas pessoas que sustetam o conceito autossabotador de serem aceitas como são continuam como sempre estiveram: sozinhas, frustradas, conformadas e amarguradas. Não conseguiram abrir mão da autopiedade e tampouco se deram conta de que precisam mudar o velho e nocivo conceito. Há quem transfira seu esforço de beleza pessoal nas cifras de seu patrimônio, acreditando que se há quem queira comprar, há quem queira se vender. São duas partes inimigas de si mesmas, mas conformadas de suas mediocridades. Eu mesmo sou um desses que está cansado de insistir no erro de buscar o belo sem dar em troca o belo em mim. É por isso que escrevo essa reflexão, porque sinto enorme necessidade de exigir da outra parte o melhor dela, pois terei dado o melhor de mim, ainda que isso custasse um sacrificante e doído recomeço, porque sair da zona de conforto, antes de tudo, dói. Dói primeiramente no orgulho, no pensamento de que era uma coisa que deveria ter sido feita há anos. Depois dói, e dói muito mesmo, o corpo, os ossos, a pele. Mas não existe mudança sem dor. Mudar de casa dói ter que dessarrumar e arrumar novamente toda bagunha. Até para o dente nascer a criança sente dor. A mudança precisa doer, e por isso se torna uma pessoa interesseira de si mesma, por querer buscar o melhor de si, e exigente com quem se coloca para conquistar a pessoa de seu interesse. É isso, quem quiser começar a mudar, que faça agora, ou resmungue para sempre.