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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 1.306.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Escravos Modernos

29.03.15, Rodrigo Caldeira

Há muito tempo eu venho observando a inversão de valores na vida que vivemos, na forma que levamos a vida, e em tudo que nos é imposto, nos forçando a aceitar as mudanças que, muitas vezes, são valores invertidos. Assim como o voto elege o político e a massa é quem coloca no poder o corrupto, tal qual é como a própria sociedade se contamina com opiniões nocivas e invertidas dos valores humanos. A mesma comunidade que critica o criticado é julgadora de si mesma, porque também está ofendendo a ética e a moral no sentido oposto da qual reclama e se manifesta. O ser humano é carente por natureza, e por ser um animal, um ser vivo, essa carência se justifica pela necessidade ínfima de acasalamento e procriação, muito embora não haja estrita necessidade desse objetivo, enfim. E essa carência tanto pode ser preenchida com imersão religiosa, como por qualquer outra busca ou fuga, costumes, comportamentos, ações e manifestos. Há quem externiza sua carência procurando brigar ou confrontar alguém de sua própria casa ou um indefeso na rua, numa festa ou mesmo em quem está quieto no seu canto e tem sua vida invadida abrupta e covardemente, como os que sofrem os moradores de rua incendiados por pessoas desalmadas. Tanto pode ser como aquele que se dopa para dormir, ou que fuma, cheira, chupa ou injeta um entorpecente tóxico. A sociedade vive num conflito entre ética e hipocrisia desde a hora que acorda e se estende até o momento que vai dormir novamente. "O bom julgador por si se julga", e grupos são formados para tacar pedras nas cabeças de seus próximos, ignorando o ensinamento de que "aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra". Comecei essa polêmica reflexão dessa maneira para que possamos abrir a mente para uma realidade promíscua e violenta na qual estamos inseridos, e participamos sem perceber que já fazemos parte de um sistema corrupto de vandalismo dos valores social e espiritualmente corretos. E venho refletir sobre os escravos modernos que comercializamos naturalmente, defendendo a falsa ideia de amor e acolhimento, sustentando opiniões hipócritas e intensamente mal intensionadas. Por puro egoísmo, egocentrismo e vaidade calcada de uma zona de conforto miserável vemo-los humanizados, agindo como quase gente sob o medo da mão pesada, do chicote ardido, do choque insano, e no final da palhaçada aplaudida por todos nós, hipócritas indecentes, uma migalha como recompensa.

Então, recentemente, uma irmã que tenho na família e com que mal me relaciono fez uma montagem de um cão viralatas preto, que ela capturou, confinou, adestrou e o tornou seu souvenir de estimação - sem falar dos cinco outros também confinados por captura ou por aceitar doações,  que vivem num espaço limitado na parte de cima da casa. E seu anúncio prometendo resgate num grupo do facebook chamado "Quase Gente". Bom, os escravos modernos são os pets que nós aceitamos na sociedade como souvenir de companhia, nos quais são depositados sentimento de amor e devoção, enquanto a mediocridade toma conta da alma e do saber cognitivo. Esses escravos modernos estão em toda parte. Andando por Águas Claras, um bairro emergente de Brasília, você vê um bom exemplo disso. Fiquei algum tempo tentando não pensar que "quase gente" são, na verdade, aquele esfomeado que vai de lixeira em lixeira rasgar sacos plásticos em busca de comida azeda para comer, ou naquelas crianças que são abondonadas recém-nascidas, ou nas mulheres que são espancadas por seus companheiros, quiçá as meninas estupradas e, talvez, tentando fingir que não pensava nos idosos moribundos largados à revelia da ética em asilos, ou abandonados dentro de lares onde (sobre)vivem aos mau tratos dos próprios familiares ou cuidadores nocivos. Esses sim são "Quase Gente". Logo abaixo da descrição do grupo "Quase Gente", há uma aberração de um grupo intitulado "Prefiro bicho do que gente", com a hipócrita informação: "Os cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações."

Os "cães amam"? Como seria isso? As "pessoas são incapazes de sentir amor puro"? Então devemos entender que Jesus Cristo, Gandhi, Chico Xavier, Buda, Dalai Lama, Mandela, Chico Mendes, Madre Teresa, Maomé e tantas pessoas que transformaram o pensamento humano no mundo por puro amor, simplesmente eram incapazes de sentir amor puro, ineficientes no mérito de amar? Grupo hipócrita, pessoas doentes, donos de escravos! Sim. Mas antes voltemos no tempo, e convido você a refrescar a memória. Desde sempre a humanidade se serve de escravos e tão recentemente na história mundial, principalmente no Brasil tivemos os escravos encoleirados, aprisionados, tratados como souvenir, um pet particular de pessoas hipócritas que tinham coleções de quase gente em suas fazendas e suas casas. Eles capturavam, confinavam e adestravam cada humano negro para servi-los e animá-los. Sim, estamos falando de escravatura, e o interessante é que se naquela época um escravo se visse livre de grilhões, coleiras, fucinheiras e correntes certamente fugiria para nunca mais voltar. E concomitantemente seus "donos" iam atrás deles para tomá-los de volta como seus objetos de companhia. Veja como tudo continua a mesma coisa atualmente, os cães, os macacos, os gatos e muitos animais são os escravos modernos que aplaudimos em circos, na TV, no dia-a-dia. As imagens falam por si, não precisam de tradução e estão claramente coligadas umas às outras, passado e modernidade iguais, disfarçadas, tal como os africanos disfarçavam suas doutrinas afro-religiosas. Para entender isso e compreender a reflexão, considere esta informação a seguir. Cada um dos 16 orixás - as entidades cultuadas no candomblé e na umbanda - corresponde a um ou mais santos católicos. Dá para explicar essa ligação contando um pouco da história do período colonial no Brasil. Naquela época, chegaram ao país os primeiros africanos de origem iorubá, um povo que ocupava a região onde hoje ficam Nigéria, Benin e Togo. A religião dos iorubás era o candomblé, mas eles aportaram no Brasil como escravos e não podiam cultuar suas divindades livremente - você sabe, a religião oficial do país era (e é) o catolicismo. Por causa dessa proibição, os escravos começaram a associar suas divindades com os santos católicos para exercerem sua fé disfarçadamente. Como os santos católicos são bem numerosos, existem divindades que são identificadas com mais de um santo. Por exemplo: Oxóssi, o rei da caça, é associado a São Jorge e a São Sebastião, Iemanjá era representada por Nossa Senhora da Conceição, Iansã por Santa Bárbara, Xangô por São Jerônimo e São João, Ogum por Santo Antônio e São Jorge e Oxalá por Jesus Cristo. Hoje temos a repetição de padrão,  em que as pessoas dadas a levarem na coleira seus pets, confinando-os a espaços limitados, sem liberdade fora de casa, adestrados onde fazer suas necessidades, totalmente incapacitados de sua natureza original que, se soltos simplesmente fogem. Por que será que fogem? Mas eles não amam? Não sentem amor puro? Por que fogem? Por que se anda com cães, macacos e até gatos na coleira, na corrente, na corda? Sim, porque são escravos modernos, bem melhores do que os escravos humanos, porque eles não falam, não pensam, são servis e têm medo.

Eis a seguir os escravos daquele tempo: 

e os escravos modernos:

  .

Eis os escravos presos nas coleiras daquele tempo:

 

e o disfarce nos escravos modernos:

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O tipo de pet daquele tempo:

  

e o tipo comum de escravo moderno:

 .

O escravo "fujão":

 Escravidão no Brasil

e o escravo moderno fujão:

 

Escrava com focinheira na época:

e a escrava moderna com focinheira:

 

e o disfarce para não parecer tão cruel:

Escravos presos na senzala:

escravos modernos presos nas senzalas modernas:

 Resultado de imagem para cães confinados no quarto

Donos dos escravos desaparecidos:

 

e os donos dos escravos modernos desaparecidos:

Se os "quase gente" ou "anjos" não fossem escravos modernos, certamente NÃO FUGIRIAM...

 E você? Também tem seu escravo moderno? Certamente, se você nascesse na época da escravatura gostaria de ter ou teria um escravo africano, humano negro, à sua disposição... será que não?!?