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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 1.306.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Escravos modernos

01.02.25, Rodrigo Caldeira

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Voltando para meu apartamento em Águas Claras, Distrito Federal, em uma manhã de sábado, notei algo curioso: as calçadas estavam cheias de pessoas, homens e mulheres, adultos e jovens, cada um segurando uma cordinha que terminava em um cachorro preso por uma coleira. Contei dezesseis ao todo no caminho até em casa. Enquanto dirigia pela avenida, uma reflexão tomou conta de mim: desde os primórdios da humanidade, o ser humano sente a necessidade de possuir escravos. E quais são as características mais desejadas em um escravo, senão sua lealdade e seu silêncio?

A história está repleta de exemplos. Os egípcios escravizavam prisioneiros de guerra. Os gregos submetiam persas, trácios e citas. O Império Romano escravizava povos conquistados, dos gregos aos celtas. Os persas, os chineses, os maias, os incas… a lista é interminável. Séculos depois, a escravidão assumiu formas ainda mais cruéis: milhões de africanos foram arrancados de suas terras e transportados para as Américas. O mundo islâmico, os impérios orientais e os colonizadores europeus moldaram sociedades inteiras sobre o alicerce da servidão.

Com o tempo, os grilhões se tornaram invisíveis, mas a essência da escravidão permaneceu. O desejo de domínio, de posse, de controle sobre um ser vivo continua a pulsar nas veias da humanidade. Os métodos mudaram, mas os princípios seguem os mesmos: correntes, coleiras, focinheiras. E, assim, os escravos modernos surgiram — leais, dóceis e subservientes. Bem-vindos enquanto obedientes, descartáveis quando inconvenientes. Se ameaçam a ordem, são vendidos, doados sob o mascaramento de boas ações ou simplesmente abandonados. Afinal, ninguém quer um escravo rebelde.

Tanto os escravos antigos quanto os escravos modernos, isto é, os pets, foram vermifugados, castrados e postos para servir. Alguns foram selecionados para procriar por pessoas que os amam tanto que vivem "resgatando" e os aprisionando, vermifugando e castrando da mesma maneira. O tempo passa, mas os costumes são os mesmos.

O mais interessante é que essa nova forma de escravidão é vista como amor. As pessoas levam seus escravos particulares para passear, puxando-os por coleiras e correntes. Prendem-nos em postes enquanto fazem compras. Transportam-nos em gaiolas ou em carrinhos adaptados. E a ironia suprema? Muitos trocam filhos por escravos. Chamam-nos de “pets” ou de "filhos". É vantajoso ter um pet: ele não reclama, não exige nada além do essencial, e, se incomodar, pode ser descartado, ainda que, como já falei anteriormente, sob o disfarce da boa ação da doação. Mas há um detalhe que poucos percebem: ele tenta fugir! Se é tão amado, por que foge? Será que se sente amado ou apenas condicionado a obedecer? Um escravo satisfeito não fugiria, certo?

Eu também comprei duas cachorrinhas. A primeira corria pelo apartamento quando filhote, e logo percebi o erro: passava o dia inteiro sozinha, confinada em uma sacada de 2m². Sua alegria ao me ver era alívio ou desespero por companhia? Então, levei-a para a casa da minha mãe, onde havia quintal, pomar e jardim. Mais tarde, adquiri outra para lhe fazer companhia. Ambas vivem livres. Não conhecem coleiras, correntes ou cordinhas. Elas nos acompanham porque querem, não porque são forçadas. No parque de Águas Claras, correm soltas e, quando chega a hora de ir embora, basta dizer: “e aí, bora?!” para voltarem brincalhonas. Elas têm escolha.

Já os demais pets, todos presos aos seus donos...

Abaixo, seguem algumas imagens. Qualquer coincidência é mera semelhança. Ou vice-versa.

Os seres humanos e a necessidade de sempre ter um escravo como Pet...

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O ser humano e sua necessidade de manter escravos presos à coleira...

2.jpgO ser humano e a necessidade de deixar seus escravos amarrados, enquanto fazem compras no mercado...

3.jpg O ser humano e a necessidade de resgatar o bicho livre para mantê-lo preso escravizado...

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O ser humano oferecendo gratificação quando seu escravo-moderno foge...

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