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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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LIVRO 1: CHAPADA DOS VEADEIROS

27.01.21, RodrihMC

LOUIS VUITTON - FRANÇA. Bolsa de viagem de mão no padrã

Sair de casa é, para mim, uma grande dificuldade. Tal pai, tal filho, meu pai deveria ter nascido um tatu, porque ele nunca sai do buraco que é o apartamento em que mora. Mesmo quando morava em casa e dava uns perdidos em minha mãe, ele não era de sair para uma viagem a passeio - só a trabalho. Isso ferrou nossas vidas como filhos, que, mesmo numa família de classe média e de vida confortável, nunca fomos brindados com viagens e passeios legais, só mesmo visitando avós e familiares de outras regiões, e de maneira reduzida, quase rara. Uma falha do meu pai, mais do que de minha mãe que, naquele tempo, era a esposa submissa de um marido controlador. Hoje minha mãe é outra pessoa, extremamente independente, valente e sorte do meu pai não ter conhecido a versão "minha mãe 2.0.2.1", nem as versões anteriores até 2.0.1.8, porque ele ia comer o pão que o diabo amassou nas mãos dela. Enfim.. uma amiga, com quem tenho mantido aproximação demasiadamente, a ponto de se tornar próxima o suficiente para quase ser constante na minha vida - o que de alguma maneira é bom, porque ultimamente não tenho andado com sorte em relacionamentos ou casos, mais casos do que relacionamentos, já que num primeiro momento a mulher não quer nada sério, nem casório, nem filho, nem nada, daí a gente que é homem se acomoda, porque vai de encontro com o que queremos também, ainda mais quando já somos surrados em matéria de relações conjugais. Mas isso vicia e você acaba ficando preso na pessoa, dependente dela, principalmente da mulher com o homem, o que não é de todo ruim, mas acaba sendo um peso a mais para carregar, quando a outra parte passa a ver no cara a real possibilidade de ter uma relação séria, que envolva casório, filhos e vida a dois para sempre. E isso desperta na cabeça da gata do nada, sem aviso prévio nem indiretas, é de repente, numa D.R que acontece e ela solta suas pretensões ocultas, lisongeiras, que até aquele momento o cara não tinha se dado conta que está literalmente ferrado. Enfim, então aceitei um convite dessa amiga para irmos a algum lugar e aproveitar seus dias de recesso no trabalho. Isso é outra coisa que tira qualquer cara do sério, quando a amiga muito próxima vem com um papo de "vamos em algum lugar diferente", tipo hotel-fazenda, parque aquático, piscinas termais ou fazer trilha. Homem é um bicho 8 ou 80, se o dinheiro está em paz na conta, o capeta vai lá no ouvido da mulher e atiça a sujeita para fazer esse dinheiro sair da conta. É incrível a simbiose disso. Então aceitei, principalmente quando ela disse que as contas seriam divididas (sonha Alice!). Nem me planejei, olhei a conta, vi o saldo e disse: "Bora". Homem ogro, macho e das antigas age assim, não fica de viadagem fazendo continhas, planejando a mala de viagem, mapas, indo fazer revisão no carro, e todo o ritual de acasalamento antes de pegar estrada. Homem ogro, macho e solteiro, sem filhos, tem que ser porra louca, entrar no carro e ir. No meio do caminho vai lembrando do que poderia ter pego e liga o fôda-se, deixa para comprar outro na próxima cidade ou nem compra, se vira com o que tem. Mas nesse caso, a amiga foi pro meu cafofo e lá ela montou uma mala, que mais parecia que íamos para uma guerra. Aliás, duas malas, a bolsa dela, uma mochila e uma sacola com sapatos de todos os tipos para situações diferentes. Nós homens, ogros, machos, somos diferentes e usamos o mesmo calçado para tudo, e se deixarem, usamos até para tomar banho. Mas ela pegou um tênis, um coturno de trilha do exército (que eu nem lembrava que tinha), um par de chinelos e um para de sapatos para uma possível ocasião. Deixei o par de sapatos pra trás, catei a mochila sem saber o que estava dentro, carreguei as malas (que não tinham formato de mala, ainda bem) e fui pro carro (sem revisão nem nada). Já na estrada, a paz e os pensamentos nos gastos, seguidos de um fôda-se, depois novos pensamentos e outro fôda-se, como se ao dizer fôda-se fosse uma autoafirmação ou um autoconvencimento de que eu estava perto de gastar meu dinheiro, que adormecia pacificamente na minha conta bancária. Depois de me torturar com pensamentos de que estaria perto de gastar meu dinheiro suave na minha conta, relaxei e o fôda-se entrou na minha mente por osmose.  Primeiro gasto vinte reais, pouco mais que quatro dólares e o primeiro pagamento na estrada a gente nunca esquece. Café com leite, pamonha, bolo de mandioca. Tudo igual à padaria perto de casa, apesar de ter sido num lugar que parecia ser coisas da roça, tudo fachada, mó mentira... leite de caixinha, café de mercado, milho e mandioca processados em centrifugadores, tudo sem graça, mas tá, enganemos nossos cérebros e sigamos a viagem.