o SEU sucesso do seu filho
Aos 44 anos de idade percebi algo que foi responsável por muitas de minhas angústias na vida: a realização. Foi orientando uma amiga que tive um insight, que me pararia no ar num pensamento longínquo de uma reflexão muito séria, e também muito importante: A minha realização está diretamente ligada a meus pais. E a frustração também. E vou discorrer aqui esse raciocínio para que possam acompanhar a experiência e repensar suas vidas com seus filhos, ditos problemáticos. Tudo tem a ver como a criança é exposta ao comodismo dos pais. Não importa se for mãe solteira ou pai solteiro, é como esta e aquele expõe à cria o referencial de busca e de sucesso. Um bom exemplo disso é a vida de um garoto nascido na família Real. O moleque, desde que é um menino, já é exposto à percepção de que ele será o sucessor de seu pai, o Rei. Seus pensamentos já se tornam depurados para a responsabilidade de dar continuidade aos valores de seu pai, de sua família e de todo o império. Bom, pareceu um exemplo fora da realidade? Então vamos falar daquelas pessoas que vivem na roça ou no sertão. O pai passa para o filho a incumbência de seus valores, que passa a gostar do ofício desde novo. Aqueles pais que têm a postura folclórica de danças seculares, religiosas ou simplesmente culturais, até mesmo os índios, por exemplo, os filhos são envolvidos num desejo de seguirem com a herança cultural ou sistêmica familiar. Vindo à cidade temos os filhos de policiais, bombeiros, paramédicos, militares que querem seguir a mesma carreira, simplesmente porque tomaram para si o encantamento da profissão dos pais. Mas não pára por aí, pois temos adolescentes que querem ser algo que os pais não são ou nunca foram, quer por condição financeira, cultural ou mesmo por opção de vida. Decidiram por alguma referência a que foram expostos em que seus desejos foram cativados pela nova possibilidade de vida, tanto no quesito conforto como no papel de importância social. Meus pais nos criou como puderam e souberam fazer. Nunca conheci a pobreza pela falta de roupas, alimentos, teto ou conforto, no entanto também nunca fui estimulado a ser nada. Quando paro para pensar sobre isso e volto ao meu passado não tenho nenhuma referência de busca. Lembro que eu queria ser bombeiro, como muitas crianças querem pela ideia de aventura e heroísmo, o reconhecimento social de servir ao próximo e ser o herói da história. Isso não me foi estimulado e em troca também não me foi dada nenhuma outra referência de sucesso ou de paixão social. Meu pai foi bancário por 35 anos, alcançou diversas posições sociais difíceis para a época. Minha mãe foi servidora pública, depois professora. Os dois não me falavam da beleza de suas profissões, eram apenas trabalho. Tanto no banco, quanto no MEC em que eu ia com meu pai ou minha mãe eu era posto para ficar quietinho e deixá-los trabalhar. Provavelmente um papel e uma caneta para ficar riscando num entretenimento meu com o meu imaginário, e só. Depois voltar pra casa. Era chato, cansativo e desconfortável esse universo de trabalho. Mas será que eu poderia ter sido mais bem conduzido nesse meio de adultos? E se meu pai me pusesse em sua cadeira diante sua mesa de chefe e me estimulasse a sentir a posição social de um bancário de sucesso, será que eu iria gostar da brincadeira? Será que isso instigaria minhas ambições e minha vontade de querer ser o melhor gerente de banco do melhor banco? Talvez me pai dissesse: “Então filho, já pensou você sentado nessa cadeira do papai? Todos vão querer ser seu amigo, vão te chamar para jogar bola, ir para as festas, já pensou filhão?”. Minha mente poderia viajar nos pensamentos desse status, já que para a capacidade de compreensão de um garoto ser convidado para festas, ter amigos me querendo por perto seria um bom reconhecimento. No passar do tempo os valores de status seriam modelados, não somente o cara mais bem quisto, mas também o que comprou o carro do ano primeiro tem a namorada mais bonita do banco e por aí vai. E nos estudos? Como eu seria nos estudos se fosse estimulado dessa maneira? Acredito que eu focaria mais em ser um bom aluno, tirar notas boas, pois eu teria um objetivo maior agora: ser o melhor gerente de banco do melhor banco. E meus pais poderiam me citar nas conversas com as visitas, como: “Digo, vem aqui um pouquinho. Filho, não é verdade que você está tirando notas boas para trabalhar no banco do papai? Esse garoto aqui vai ser um grande gerente de banco, né filho?!”. E por mais que eu respondesse timidamente, voltando a brincar no meu canto com os filhos dos amigos visitantes, na minha mente estaria um orgulho delicioso por ter sido referência entre os adultos como um futuro promissor, alguém que se destacaria por ser tão querido. É incrível o que se pode fazer para uma criança sentir o poder de ser alguém. Eu não tenho filhos, mas já observei muito o comportamento de crianças rebeldes ou dispersas, todas estão sem foco, não há um referencial para que possam se sentir estimuladas. Se durante os seriados de Chips, em que dois policiais faziam policiamento em grandes motos, eu tivesse o estímulo de ser um policial também, certamente eu seguiria essa estrela, e poderia até me incomodar quando assistisse “Os gatões”, que eram três adolescentes rebeldes pilotando um carro rebaixado e causando infrações de trânsito o tempo todo. Há filhos hoje em dia que são loucos por games e seus pais os rechaçam como vagabundos, no entanto, aqueles pais que estimularam os dons em seus filhos por games regozijam a alegria de serem pais dos mentores do Windows, Apple, Facebook etc. Até os garotos que ensinam com tutoriais de games no YouTube estão faturando dezenas de milhares com algo que gostam de fazer. E depois? Depois poderão se tornar engenheiros de sistemas, programadores etc. A menina que adora maquiagem e até manja de todas as técnicas de beleza pode vir a ser médica de cirurgias plásticas, poderá ser uma grande empresária da linha de cosméticos e para isso terá estudado absurdos para ser tão boa no que faz. Então é isso, você que é mãe, você que é pai não ouse dizer que o que seu filho escolheu ser é responsabilidade exclusiva dele, porque não é, pois se ele não for grande coisa saiba, primeiramente, que você deverá por a mão na consciência e assumir que falhou nesse mérito tão importante na criação de sua cópia-mirim. Fica a dica ou o puxão de orelhas para a mãe e o pai.