Penitenciária de Palmatória
Meus sonhos, geralmente, são intensos, ricos de cores, detalhes e movimentos. Ouço todos os diálogos, tenho todas as sensações como as provindas do clima, do sentimento, paladares e até olfato. Tem começo, meio e fim, como um filme completo. Para alguns eu vou para outro plano de vida real, uma realidade paralela, para outros sou apenas criativo.E nesse sono de ontem para hoje tive uma experiência muito intensa, em que eu participava da constituição judiciária do Brasil, em que o país estava num caos sem controle. A corrupção estava generalizada na política e fora dela, muita violência de toda espécie, bandidos, traficantes, estupradores, estelionatários, cafetões, pedófilos, golpistas, cônjuges assassinos, enfim, havia uma orda de malfeitores sem prescendentes. Havia uma população recuada, pacífica, passiva por não acreditar mais no sistema, nem na polícia tampouco na justiça ou nos governantes. Então juntou-se num grupo de magistrados anciãos, e algumas pessoas inabalavelmente corretas da sociedade para instituir no país a lei pétrea da palmatória. Uma punição que reduzia o tempo de estadia na cadeia pelo cumprimento da sentença à escolha do sentenciado. O nome "penitenciária" é por si um local em que só se entra quem precisar alcançar sua penitência, não para ficar preso aos banhos de sol, marmita com até 2.000 Kcal diárias, e toda essa frustrante mordomia que se vê hoje em todas as penitenciárias do país. Então, eu estava sentado entre as pessoas desse grupo de anciãos e pessoas corretas montando o crivo de penitências em palmatórias. Para saber o que é a palmatória, consultei o Wikipédia na internet e tive essa informação: "A palmatória por vezes também chamada férula, é um artefato geralmente de madeira formado por um círculo e uma haste. Foi muito utilizada no passado nas escolas pelos professores a fim de castigar alunos, golpeando-a na palma da mão do aluno castigado. Algumas palmatórias podem conter furos no círculo, a fim de aumentar a sensação dolorosa. Os furos servem para vencer a resistência do ar e aumentar a velocidade do golpe, aumentando assim a dor e vestígio deixado na pele por cada golpe. Antigamente, nas festas de formatura, no Brasil, era costume os alunos presentearem seus professores com palmatórias, como sinal de submissão à autoridade. Atualmente, seu uso é considerado crime na maioria dos países ocidentais, entre eles Portugal e Brasil, bem como qualquer castigo físico infligido a estudantes. O último país ocidental a abolir o uso da palmatória foi a Inglaterra, em 1989. Recentemente, contudo, o parlamento inglês voltou a debater a legitimidade do uso dos castigos físicos como medida educacional corretiva em crianças, gerando grandes discussões. No Brasil, a palmatória passou a chamar a atenção no final dos anos 60, por conta de campanhas contra a violência infantil, e foi transformada em crime no final dos anos 70". Então percebe-se que a coisa funcionava como correção educativa. E foi criada a Penitenciária de Palmatória, localizada em Pernambuco, com capacidade para 100 mil penitentes que se vestiam com uniformes de diversas cores, identificando seus estágios de penitência. Me vi sentado em diversos julgamentos e as sentenças se davam conforme a gravidade do delito ou infração. Algumas me despertou a curiosidade. Esteve no julgamento popular um indivíduo que, por dirigir embreagado, atropelou e matou mãe, pai, dois filhos menores e a avó que estavam sentados num ponto de ônibus num domingo pela manhã, quando a família voltada de um culto da igreja pentecostal. Por dirigir embreagado a sentença começou o cálculo de sua penitência de 700 palmatórias nas mãos, por matar adultos, 2.000 palmatórias nas mãos e 2.000 nos glúteos. Por matar crianças, 4.000 palmatórias nas mãos e 600 no rosto. No total esse indivíduo deveria receber 14.000 palmatórias nas mãos, 6.000 palmatórias na bunda e 1.200 palmatórias no rosto. Pensei, murmurando com uma pessoa ao lado, vai morrer antes mesmo de chegar a vinte. Então me surpreendi com uma condição do tribunal, em que o condenado entraria numa sala com seus advogados e oficiais de justiça, um escrivão e policiais para que ele determinasse o período em que ficaria recluso, a fim de cumprir sua pena. Para que ele pudesse entender como seria sua penitência julgada e determinada no tribunal, pelo juri popular, ele receberia 7 palmadas nas mãos com o instrumento da palmatória, para que ele mesmo dissesse quanto tempo gostaria de passar recluso, preso na Penitenciária de Palmatória. Quando ele voltou do recesso, extremamente desconsolado pedindo milhões de perdão para os entes queridos da família exterminada por seu ato ediondo e implorando por piedade, pois se deu conta que a dor de uma palmatória, se tivesse recebido algum dia em sua juventude jamais teria pego no volante sequer com uma única dose de uísque, o que dirá sair totalmente embreadago com sua Range Rover a 180km/h pelas ruas da capital gaúcha. O penitente com idade aparente de 38 anos, optou em receber a quantidade de palmatória mínima que poderia optar, mas poderia sugerir quantas receberia para sair logo da penitenciária. A quantidade mínima instituída pelo Estado era de 5 palmatórias por dia, e estabeleceu-se 11 anos, 9 meses, 1 dia, 1 hora e 4 minutos matematicamente calculados, considerando que o sentenciado não receberia as palmadas nos finais de semana, quando teria seu descanso, por ter trabalhado a semana inteira na confecção de uniformes, construção e manutenção de móveis, plantio e cultivo de alimentos da Penitenciária. Lembro que o juiz orientou o sentenciado de que brigas entre sentenciados gera multa de 300 palmatórias nas mãos com pena mínima de 7 palmadas por dia, somadas às que ele já cumpriria. Valeria para rebeliões e qualquer confusão dentro da Penitenciária de Palmatória. No meu sonho havia-se dito também que ficaria recluso por 11 anos, mas aqui fiz o cálculo para ilustrar como seria isso no cenário que vi. Outras sentenças de estelionatários, traficantes, assassinos, corruptos aconteciam a todo vapor. Vi rapidamente um julgamento de um estuprador serial, que receberia em sua sentença tantas palmatórias em seus órgãos genitais, além dos glúteos, mamilos, mãos, antebraços, interior das coxas e rosto. Todos os locais que ele fez abuso nas mulheres, meninas e crianças que atacou. Estando caminhando pela Lapa, no Rio de Janeiro, era bem tarde da noite, já que o local é boêmio, vi belas senhoras e senhores bem vestidos, com jóias adornadas no pescoço saindo do teatro, numa noite agradável sem riscos de arrastão, assaltos, sequestro relâmpago. Via mais longe uma moça passeando com um carrinho de bebê e uma outra criança próxima dela. Nos jornais estampados numa banca de revistas aberta até aquela hora tarde da noite estava na primeira página o enunciado gigante, que dizia: 728 dias sem corrupção na política, o país se estabiliza, taxa de desemprego está em 0,23%, criminalidade despencou em 500% em todos os estados brasileiros, PIB em alta, o país cresce, tecnologia robótica dos alunos do SENAI desenvolve casa inteligente para idosos. E acordei às 5:50h da manhã de hoje, nem tomei meu desjejum para não esquecer qualquer detalhe deste sonho, no mínimo, curioso.