Prisioneira de si mesma
Tenho observado que muitas pessoas vivem prisioneiras de si mesmas. Já há aquelas que se dão Carta de Alforria e seria melhor se tivesse continuado prisioneiras. Existem pessoas que são fugitivas e não duram muito tempo em liberdade, voltando a ser prisioneiras de si mais tardar. Também tem aquelas que dão pequenas escapadelas, mas não demoram muito tempo em liberdade, retornando gratuitamente para suas celas. Não posso esquecer das que se iludem dentro de suas prisões de que estão libertas. Essa reflexão é bem profunda, mas não quero deixar de falar sobre cada tipo de prisioneiro de si. Aquele prisioneiro de si que se dá uma Carta de Alforria, isto é, se declara livre e não mais prisioneiro é o tipo de gente imprudente. Oras, para que existe a prisão? Justamente para que se cumpra uma pena de reclusão, de modo que o indivíduo possa repensar seus erros e aprender com a privação de liberdade. Com base nesse conceito, aquele que se dá Carta de Alforria está, antes de tudo, adiantando sua saída sem refletir suas falhas e por isso darão com os burros n'água, isto é, desprovidos de consciência voltarão a cometer os mesmos erros, talvez até piores, pois não terão se permitido aprender - em sistema fechado - nada sobre o que a Vida lhe necessita saber. São pessoas que se dão ao acaso, arriscam alto com pouca aposta, e têm sempre uma desculpa para justificar seus devaneios na ponta da língua. Geralmente são pessoas encantadoras pela capacidade de conquistar com alto astral, e, consequentemente, costumam fazer estragos maiores na vida de outras pessoas. Os fugitivos são o tipo de pessoa que não entende a complexidade de seus atos e tampouco compreende o sentido de sua retenção. Acham tudo muito chato e querem que o mundo se exploda, mas no fundo, no fundo, sabem que são uma ameaça social, pois são muito inteligentes e perspicazes, e por isso se permitem fugir do sistema penitenciário de si mesmos, desperdiçando grandes oportunidades de aprendizado com autorreflexões e introspecções valiozas. As que dão pequenas escapadelas são do tipo que não têm vergonha na cara, não querem refletir, pouco pensam em melhorar, vacilam muito e são irresponsáveis. Esse tipo de gente não se importa com nada, mas são acomodadas o bastante para nem ficarem muito tempo em liberdade e tampouco presas. Vivem dessa maneira a vida toda, nem crescem, nem decrescem. E por fim, não menos pior, existem aquelas pessoas vivem suas solidões prisionais, fazendo do recinto da sua prisão seu mundo encantado, acomodadas e iludidas de que estão felizes assim. Isso atrapalha o processo de autorreconhecimento de erros e travam o sistema da busca pela maturidade e o desenvolvimento do caráter. Sim, estou o tempo todo falando das pessoas que se vêem vivendo em solidão, solitárias e prisioneiras de si mesmas. A solidão, como a prisão, é algo temporário, momento de observação, reflexão, aprendizado e contenção. Algumas vezes, eu tenho sido o iludido na minha cela na qual eu fiz uma grande cidade compacta. Burrice, pois deixei de sentir a profundidade da real necessidade de minha maturidade. Era como se a cada dia insistindo no erro, isto é, na ilusão de que dentro de minha prisão eu tinha tudo e estaria protegido do mundo lá fora fosse o necessário para me preservar e me manter seguro. Ledo engano, estaria seguro se não estivesse preso desse jeito em mim. E a sentença de reclusão, detenção propriamente dita é autorrenovável, ou seja, você falta consigo num dia, e paga no outro dia na mesma moeda. Só que não há recibos e você só percebe que está pagando por repetidos erros muito depois, quando já se cansou de bater a cabeça tantas vezes. Ser prisioneiro de si não é confortável, mas se você precisa viver em solidão procure tirar o melhor desse momento. É costumaz que pessoas que se dedicam em solidão, sem cometer tantas infrações durante esses momentos são as que saem mais cedo e encontram alguém legal para compartilhar a vida. Já aquelas que supracitei, geralmente viverão sempre buscando até se cansarem e aceitarem a condição de se reinventar.Tenho dito e não é diferente disso.