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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Quando a amizade morre.

05.01.18, RodrihMC

Postado em 03.03.2012, atualizado.

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Em eclesiástico, na Bíblia, se diz sobre o poder da amizade: "5. Uma boa palavra multiplica os amigos e apazigua os inimigos; a linguagem elegante do homem virtuoso é uma opulência. 6. Dá-te bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil. 7. Se adquirires um amigo, adquire-o na provação, não confies nele tão depressa. 8. Pois há amigos em certas horas que deixarão de o ser no dia da aflição. 9. Há amigo que se torna inimigo, e há amigo que desvendará ódios, querelas e disputas; 10. há amigo que só o é para a mesa, e que deixará de o ser no dia da desgraça. 11. Se teu amigo for constante, ele te será como um igual, e agirá livremente com os de tua casa. 12. Se se rebaixa em tua presença e se retrai diante de ti, terás aí, na união dos corações, uma excelente amizade. 13. Separa-te daqueles que são teus inimigos, e fica de sobreaviso diante de teus amigos. 14. Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. 15. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. 16. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo.17. Quem teme ao Senhor terá também uma excelente amizade, pois seu amigo lhe será semelhante." E o que se pode tirar disso? Tudo, enfim. Estamos sempre fazendo novas amizades, e desfazendo das velhas, mas por que tudo isso acontece? Bom, há dois tipos de amizade: a que surge de uma necessidade e a que surge de um interesse. Quando a amizade surge da necessidade, ela acontece espontânea e naturalmente, sem floreios, sem ensaios, simplesmente é. Esse tipo de amizade dispensa manutenção, porque ela subsiste no tempo e uma parte se submete grata e cordialmente à outra, com o propósito de absorver sua graça, sua energia, e corresponder com gratidão e bem estar. A amizade que acontece de um interesse é aquela que se busca sanar um problema ou precisa-se de respostas rápidas para suas questões. Ela tem um poder maior de persuasão e a energia de seu envolvimento acontece mais intensamente. Ela atropela a amizade vinda de uma necessidade, porque ela não necessita, simplemente ela quer. É uma amizade sedutora, vem com o pacote completo de malícia e vaidade, é mais atraente e realiza mais ações. Entretanto, é uma amizade fulgaz, etérica e a qualquer momento deixa de existir, basta que se encontre outra pessoa ou outro ser vivo que roube o interesse. Não há nada de errado nisso, é normal, está no humano de cada um, muito embora incomode um pouco a quem se acomoda com esse cenário. A amizade que surge por necessidade também está fadada a morrer, justamente porque sua origem veio de uma necessidade, de um momento em que o valor da troca era importante. Há uma diferença em ser necessário (necessidade) e ser interessante (interesse). O primeiro se põe em favor do potencial de conhecimento do outro, portanto se torna simples e receptivo, tudo se torna sabedoria, e a amizade se solidifica nesses termos. A outra já não necessita aprender, apenas tem o interesse de possuir. Ambas podem durar anos, e de repente desaparecer, sucumbirem do nada, e não há nada de errado nisso também. A amizade da necessidade, por ser mais branda, pode ressurgir reivindicando sua atenção e a tem, sempre tem, porque a concessão acontece pela gratuidade e o término desta acontecerá por parte da parte respeitada. Jamais será contestada pela parte que necessita, simplesmente se limitará no espaço delimitado e permitido. A amizade do interesse tem uma ruptura mais espontânea, tácita, ou seja, que está subentendida, implícita. É descartável e isso não incomoda tanto. No Whatsapp se percebe a diferença da amizade nascida da necessidade, daquela nascida do interesse. A que provem da necessidade é paciente, correspondente e presente por naturalidade. Se o manifesto vem da parte respeitada, a parte que respeita absorve com gratidão pela atenção recebida. Quando o manifesto surge da parte que respeita, isto é, necessita, a atenção acontece em sua gratuidade na postura de quem detem o respeito maior. Já a amizade que provém do interesse é displicente, não-correspondente, se manifesta quando lhe convém buscar algo. É mais sedutora, porém menos amorosa. Tem mais cor, mas não tem cheiro nem sabor. Chama mais a atenção e não pensa duas vezes para descartar. E quando isso acontece causa uma espécie de alívio, de dever cumprido ou mesmo de um alívio por não ser mais obrigado a responder ou corresponder. E não há nada de errado nisso. Ambas amizades um dia morrerá, algumas poderão sobreviver, mas terão seus momentos de hibernação. Já no Facebook, as amizades lá contidas são, em sua maioria, de interesse, porque há a necessidade de manter uma aparência, um status, um conceito. Não se bane uma amizade no Facebook sem antes pensar nas probabilidades positivas e negativas do desligamento, justamente por causa do interesse em tê-la nas mediações. É uma amizade consumista, cujo pensamento se faz sobre "não me serve no momento para nada, mas pode ser útil a qualquer instante" e fica lá em standby, adormecida. A outra parte faz o mesmo e nenhuma das partes se posiciona nem se liberta. Amizades morrem, e outras nascem. É um processo natural de todos nós, principalmente porque estamos sempre nos atualizando, absorvendo ideias novas, conceitos inovadores e confortáveis. Todas as relações que acontecem surgem de algum dos dois tipos de amizade. Quando surge pela necessidade, a relação tende a ser duradoura, às vezes eterna. Quando surge pelo interesse, a relação está fadada a um fim rápido e sem aviso prévio. E naõ há nada de errado nisso. As amizades se alimentam de momentos, e por mais que as partes tenham vivido momentos eletrizantes juntas, com direito a fotos, encontros, viagens, comemorações, festejos e juras eternas, de repente se evaporam deixando nas fotos, nos vídeos ou nos textos escritos seus momentos registrados na lembrança, sem o sentimento de perda, mas de uma fase bem aproveitada, bem vivida com aquela pessoa, que também segue seu caminho, como barquinhos de papel que você constrói e solta sobre a água. A brisa mínima o fará se distanciar de você e num dado momento a forma de barquinho se desmanchará voltando a ser uma folha de papel aberta, e logo depois fragmentos de celulose espalhados na água. O que torna a ruptura um desgaste é quando uma das partes reivindica a mesma atenção que tinha, quando era novidade, sem compreender que a validade venceu e que a amizade passou para o nível de conhecimento do outro, sem necessariamente ser referida como algo presente ou mais importante, e não há nada de errado em estar nesse nível. Não se consegue restaurar o papel molhado, que num dado momento foi um barquinho de papel. Por isso a citação bíblica dá ênfase à amizade fiel, porque ela está cada vez mais rara diante a demanda de hoje em dia, que, nos tempos bíblicos, a informação não era relevante e o acesso às pessoas estranhas praticamente não existia. Hoje um estranho pode ser convidado a entrar em sua casa, por mais vezes que um amigo de longas datas. O que se deve fazer quando perceber que a amizade venceu? Simplesmente a liberte de você e viva a sua vida, porque novas amizades surgirão para tornar seus dias mais interessantes. 

"Amizades são como Estrelas: nascem e morrem de repente, e outras simplesmente param de brilhar por um tempo." (Rodrigo Caldeira - Blogueiro)