Quando a cumplicidade acaba..
Quando a cumplicidade acaba você não tem muito o que fazer na relação que está com a pessoa querida. Quando você percebe que não há mais cumplicidade, significa que isso já aconteceu há mais tempo e você só está se dando conta agora. Quando sua relação desmorona, é porque ela já estava ruindo há semanas e você não percebeu porque estava com medo de enxergar a verdade dos fatos, que se percebe bem no comportamento de enfrentamento da outra parte nas pequenas coisas que você comenta. Pare de se iludir alimentando-se das migalhas de um sentimento barato e pequeno, porque nem o sexo sobrevive à essa traição. Quando a outra parte chega a tocar no assunto de que a relação não está legal, acredite, essa pessoa agiu em silêncio por muito mais tempo, o quanto você poderá imaginar. Já matutava, enquanto você sorria sinceramente, ainda que um sorriso sofrido ou cansado, porque a atuação da outra pessoa emana uma energia pesada, que suga a sua e deposita em você o pior dela. Tudo isso sem você saber de nada, só consumindo o veneno energético dado silenciosamente para você inalar, engolir, digerir. Quando a cumplicidade acaba, o desejo se abala, o coração se fecha, a cabeça raciocina e o corpo fica letárgico. São sinais para você perceber que algo está errado ou caminhando para um fim irreversível. Quando a cumplicidade acaba, a outra parte é seu opositor em tudo, e não há nada o que você fale ou defenda que vá convencer de que sua opinião está certa, porque essas pessoas são letais em seus julgamentos e em suas mentes não cabe mais a parceria nem o querer compreender você. Sua razão nada vale, suas experiências de vida, sua opinião, sua capacidade intelectual, sua inteligência e sua maturidade. Nada disso tem peso e disso nada se aproveita, porque a outra parte já destruiu a gôndola de cristal que protegia vocês. Quando a cumplicidade acaba, a relação já acabou há um certo tempo, resta apenas o desejo de atribuir culpas e fazer apontamentos. A hipocrisia está naquela parte que se diz ser calma e não estar proferindo palavras cruéis, nem que está sendo agressiva ou nervosa, que fala baixo e não esboça revolta, não agride nem ofende. É lógico, isso já é de se esperar, porque essa pessoa teve tempo para refletir com calma, agir sorrateiramente, enquanto você a acolhia em seus braços, em seu beijos e em seu colo. Então é normal que, quando você se dá conta da cilada armada, sua reação não seja diferente, que sua resposta seja repulsiva, que a raiva transpareça, que a voz se altere e que a alma se incendeie, se revolte. Você pode, pois não teve tempo para refletir, não pôde pensar sorrateira e silenciosamente, recebeu o baque da situação e ainda tem que bancar a parte isenta de sentimentos e reações para manter o nível. Não, você pode sim explodir, pode sim falar alto, pode sim xingar e vomitar toda sua raiva. Você pode, porque você não é a parte desonesta, capciosa que espreita nas sombras das colunas da casa te observando em sua covardia. Quando a cumplicidade acaba, vai junto a parceria, a amizade, o bem querer e todos os seus projetos, vão as surpresas que não aconteceram e os pensamentos de futuro. Não há outra alternativa, pois essa parte já traiu sua confiança, não merece sua consideração e tampouco seus sentimentos. Age por conta própria, não se aconselha mais com você, ignora sua importância e pouco se importa com suas palavras. Quando você se exaltar com indignação, a outra parte dirá calmamente que fez isso pensando em te poupar, evitando outros aborrecimentos, no seu cinismo destrutivo como se você fosse a parte maluca, que estivesse agindo com devaneio. Não se iluda, quando a cumplicidade acaba, você já está refém da hipocrisia, da dissimulação e da falta de vergonha na cara da outra parte. Se posicione, mostre sua capacidade de percepção, mas não seja covarde se humilhando ou fingindo que não está te atingindo, se afaste, se determine parar ali mesmo e não venda sua alma para quem não a merece ter para zelar por ela, pois já não zelou uma vez, já não zelou outras vezes, não zelará agora principalmente. Quando a cumplicidade acaba, com ela se vão os momentos alegres, as experiências feitas, as opiniões construídas e toda a matemática de vocês. A paixão é souvenir, a consideração é pinduricalho, nada mais tem valor, então se honre, derrube o pilar central da tenda e deixe a lona vir ao chão. Deixe que o tempo limpe, purifique, equalize, amenize e organize o depois. Confie no tempo, se permita nele e não olhe para trás. Não fique esperando as condolências da outra parte, não alimente com sua energia quem não merece sua atenção. Encoraje-se e saia, derrube a ponte que ficar para trás e siga em frente, porque melhor do que estar com alguém que tráia em pensamentos, é andar só em seus silêncios de cada dia. Quando a cumplicidade acaba, acaba consigo tudo o que foi bom, e ficam somente as lembranças, que nunca mais voltarão a acontecer.