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http://blogdorodrigocaldeira.blogs.sapo.pt

Desde 2008 - 716.000 visualizações em todo o mundo. Diário pessoal aberto, onde se pode ler experiências pessoais de vida, de relacionamentos, vislumbrar reflexões psicológicas, sociais e até pessoais.

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Resgate a si mesmo antes de resgatar os outros.

19.10.17, RodrihMC

Resultado de imagem para salva vidas praia afogamento

Há um bom tempo venho refletindo às duras penas sobre ser um resgatador em minha vida, e percebi o quanto isso é nocivo e se torna um atraso de vida absurdo para quem se permite carregar essa sina. Antes de tudo vamos entender o que significa ser resgatador e depois discorrerei essa reflexão. Ser resgatador é se tornar aquela pessoa 100% atenta em compreender e se antecipar em socorrer, atender, ajudar, auxiliar, prestar assistência a outrem, sem que o socorrido mal tenha solicitado seu socorro, porém - e geralmente, costuma colar em seu salvador sugando-o o máximo de sua energia gratuita e altruísta. Para entender o quanto ser um resgatador é uma sina maldita se não for dosada com cautela, haja visto que prestar socorro ou assistência não é de todo ruim, mas fazer disso uma bandeira de sua existência no planeta é mais do que burrice, é masoquismo ou uma tremenda falta de amor-próprio, sem falar que é um grande conflito interno não resolvido. Um típico exemplo de resgatador que conhecemos é o salva-vidas, principalmente daqueles de praia. Pois bem, vamos explorar esse exemplo para visualizar o quão ser um resgatador é um risco muito grande e precisa ser evitado. Um salva-vidas de praia está lá em sua cadeira observando que praia linda, sol lindo, mar lindo, pessoas por todo canto, mulheres lindas e tá beleza. Tudo na paz. Daí ele olha um pouco mais concentrado para um sujeito que avança contra as ondas, e de repente o infeliz desaparece na quebrada de uma onda, em que somente seu braço se vê pedindo socorro. Rapidamente e sem pensar muito (o que é uma reação de todo resgatador) o salva-vidas salta de sua cadeira, pega sua prancha e parte em direção do infeliz que está se afogando. Ao chegar perto do sujeito sem noção, que já está desesperado na luta de tentar respirar e não afundar, o salva-vidas tem que se lançar em direção do cara desesperado para salvá-lo. É aí onde começa a saga do salva-vidas para que ele, principalmente ele, não morra afogado, porque o sujeito que está se debatendo sozinho, ao sentir um corpo firme por perto - neste caso será o corpo do salva-vidas, inconscientemente e irracionalmente tentará usá-lo como apoio para emergir-se da água e respirar aliviado de seu afogamento. Mas acontece que o salva-vidas não tem nada para se apoiar sob seus pés, está tão ferrado na situação quanto o cara imbecil que está se afogando, e tem que fazer dois salvamentos agora, isto é, salvar o banhista sem noção que está se afogando e salvar-se a si mesmo, lutando corpo a corpo contra o desesperado banhista que se debate para se apoiar sobre o salva-vidas para se manter respirando. Na mente do banhista durante o afogamento é que só ele tem pulmão para encher de ar e o salva-vidas é um apoio apenas. Na mente do salva-vidas o banhista não está de todo errado, mas não está certo e menos ainda racional de suas ideias, pois está desesperado e vai tentar se agarrar nele fazendo-o afundar sem conseguir voltar à superfície para respirar também. Então são duas vidas a serem salvas. Ao dominar o banhista Zé Roela, o salva-vidas vai conduzi-lo até à margem onde prestará os primeiros socorros, ou seja, além de tirar o sujeito de um afogamento em que ele também poderia estar se afogando pelo desespero alheio, tem que salvá-lo prestando os primeiros socorros - como se ele não estivesse cansado e botando os bofes pra fora também, já que é uma vida leiga (e tapada) que está em risco e em choque psicológico estirado na areia. Bom, depois de reanimar o banhista e salvá-lo de uma morte bem aguada, o banhista segue a vida e o salva-vidas volta para sua cadeira em seu posto de observação. O que ganhou o banhista? A sua vida de volta. O que ganhou o salva-vidas? Absolutamente nada, no máximo um obrigado, tapinha nas costas e até mais nunca. Assim somos nós, quando nos tornamos resgatadores de um monte de gente por aí. E isso tem me tirado do sério absurdamente, justamente porque eu sempre fui resgatador em todas as fases de minha vida. Isso dá para mensurar que eu tenho sido brutalmente sugado de minhas energias, e nada de bom veio de retorno pra mim. Ser resgatador gasta dinheiro - e muito! Gasta seu tempo, arrebenta seus compromissos, te expõe ao ridículo e acaba com seu sono também. Hoje eu vivenciei o olho do furacão formado a partir dos meus resgates, que poderiam ter sido evitados se eu me amasse mais ou se eu respeitasse meus limites. Já comecei o dia atolado de coisas pra fazer, entretanto já estava desgastado dos resgates que tenho feito há dias, em que não houve trégua nem no final de semana para que, assim como o salva-vidas, eu pudesse também respirar e me poupar de sucumbir nos salvamentos. Meu dia ficou atolado porque fiquei resgatando uma pá de gente por todos os lados, sendo que eu poderia me calar e deixar com que essa ou aquela pessoa se virasse para conseguir resolver seus problemas, mas não, lá estava eu, o super-herói solitário me oferecendo para resolver mais um problema que não era da minha conta e nem poderia dar conta, já que começava a anular minhas obrigações e atividades para o problema ou deficiência ou incapacidade dessas outras pessoas terem mais atenção e espaço em minha vida, minha agenda, meu relógio e até em minha respiração. Já comecei errado. Meu pai, muito embora não consiga uma linha tênue de uma boa comunicação com ele, não por eu não ter tentado - sempre tento e engulo meu orgulho quando consigo, disse-me uma vez que para resolver um problema tem-se que identificar sua origem, então tudo passará a se tornar mais lógico e mais "resolvível". Uma racionalidade que faz todo sentido, quando se tem diante de si um problema que só piora. Então eu assumi um compromisso de consultoria em marketing de algumas clientes conhecidas, mas por algum motivo resgatador não me posicionei profissionalmente, montando um contrato de prestação de serviços, termo de responsabilidade e confidencialidade só para começar. O que dá raiva é que sei de tudo isso, mas... enfim... não fiz nada disso por me achar melhor do que elas (clientes) e deixá-las desenvolver as decisões, leigas e sem experiência. Deveria também montar um cronograma para que tudo fosse feito no seu devido tempo, para que no dia do evento delas tudo pudesse ser feito sem correria. Então resgatei-as como se grande coisa eu fosse e passados alguns dias os afazeres se encavalaram e formou-se um tufão de necessidades, que veio voraz para cima de mim. Já na ultra-mega correria meu celular que é novo, novinho em folha, deu pau, já tinha dado pau antes, já tinha sido levado para a assistência técnica e até entrei no Procon contra a Samsung e tal. Demorei outros tantos dias para levar o celular para a assistência técnica, agora sob uma reclamação aberta a um órgão oficial de denúncias, o Procon. Indo para a origem do problema, poderia ter feito isso quando estava mais tranquilo, mas não, deixei para fazer justamente hoje, o dia em que eu estava ensandecido, louco, correndo desesperado para dar conta dos compromissos acumulados, já que eu estava resgatando que nem precisava tanto assim de mim. Mesmo sem tempo sobrando, lá fui eu para a assistência técnica entregar o aparelho para análise. Nisso me dei conta que um tablet que levei comigo, num modelo antigo, não tinha nada configurado para eu continuar usando a internet, o telefone e outros aplicativos. Na origem do problema eu deveria ter feito isso quando estava coçando o saco em casa, à toa no domingo. Mas não, deixei para fazer em cima da hora, porque estava resgatando pessoas em algum lugar e nessa semana. Sem acreditar que o que já estava ruim poderia piorar, me liga uma amiga linda me cobrando a ajuda que prometi atendê-la, ou seja, resgatá-la, de um evento que ela estaria fazendo para uma comunidade infantil carente, sei lá, e no meu desespero disse que depositaria o dinheiro como doação e estaria tudo resolvido. Mas não, a moçoila resolve apostar no meu ímpeto salva-vidas e me pede para comprar coisas ao invés de doar. Eu, no meu tesão resgatador aceitei a contra-oferta e lá estava eu atolado até a testa de obrigações me gritando pedindo urgência, desviando meu carro para ir até uma atacadista comprar as benditas sobremesas. Tive que estacionar o carro, correr para encher o carrinho das sobremesas, pegar fila, passar no caixa, carregar o carro e ainda levar até ela - que não tem culpa de eu ser uma besta resgatadora. Estava indo para a direita do planeta e tive que encarar um mega-engarrafamento para ira à esquerda entregá-la as compras. Enlouquecido com o tempo estourado, lembrando que indo para a origem, seu eu dissesse me posicionando que iria depositar o dinheiro, evitando esse estresse, teria resolvido rapidamente e conseguido concluir outras obrigações. Saí de lá desesperado, quando poderia nem precisar ter ido às compras para doar. Minha agenda ficou incompleta, perdi tempo, perdi compromissos, tudo por ter sido resgatador. Se isso bastasse estava bom, mas satanás me escolheu para me infernizar, não bastasse o calor infernal que essa cidade está fazendo, resolvi pegar uma mega-fila para abastecer o meu carro num posto de combustíveis barato. Trocentos carros na minha frente e mais adiante vejo pelo retrovisor duas senhoras já de idade empurrando o carro em que estavam. Era falta de bateria. Engraçado que ontem passei pelo mesmo problema e ninguém se dispôs em me ajudar, ou me resgatar. Tive que largar o carro aberto num determinado local, sob um sol desgraçado, uma sede absurda, com gente trabalhando num galpão de leilões, como se eu fosse invisível, não me prestaram socorro ou perguntaram se eu precisava de ajuda. Chamei o Uber, fui até uma loja comprar um cabo para fazer extenção da bateria de um carro em funcionamento, para a bateria do carro em que eu estava, conhecida pela famosa "chupeta", em que um carro passa a energia de 12 volts para a bateria morta, ressuscitando-a. Tive que me virar sozinho para resolver um problema técnico igual dessas duas senhoras no posto de gasolina. De tanto resgatá-las o tempo foi passando, a bateria do celular substituto foi findando e lá estava eu solicitando um Uber para que as senhoras pudessem voltar pra casa em segurança. Meu ego estava me fazendo sentir um super-heroi, mas na verdade eu estava mais ferrado do que caberia nesse blog. Daí o compromisso que eu tinha às 22h foi-se para o espaço, já que eram 21:57h e eu ainda estava com as duas senhoras, que aceitaram meu resgate completo. Então tenho percebido que não adianta se você é do bem, altruísta e boa gente. O certo é se posicionar, não assumir pesos que você não tem capacidade de carregar, respeitar seus limites, seus horários, seus compromissos e saber dizer "não", sem a necessidade de ser hostil com os outros. Mas que bom que digito sobre isso e reflito ao mesmo tempo, estou cansado de ser resgatador e já vou repensar meus conceitos, valores e princípios. Se você identificou-se nesse post, faça o mesmo, repense seus conceitos e pise no freio de seu ímpeto resgatador, lhe garanto que sua vida será muito melhor. 

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