Ser parceira não significa ser adversária
Observo muito as pessoas e absorvo as coisas que elas dizem. Mas não costumo digerir de imediato, talvez seja aí uma coisa que me deixa um pouco aquém, quando se tem que trabalhar em equipe. A praticidade não é o meu forte no relacionamento com alguém, porque fico mais focado em outros assuntos como segurança, proteção, bem estar, e o depois. Há pessoas que fazem o que tiver que fazer, sem pensar muito nas consequências. Então isso tem me deixado desconfortável diante algumas situações. Vi muito disso acontecer com garotas, mulheres que eu conheci na internet, elas sempre estão longe, muito embora sejam as mais bonitas, mais legais e mais verdadeiras na relação, sempre estão longe. E muitas diziam: "Vem me ver", como se eu estivesse do outro lado da rua ou na quadra ali perto, mas, no entanto sempre estime a milhares de quilômetros de distância, e parece que isso não era um problema para elas. No entanto, na minha mente, por mais tesão e paixão que possa existir, já se projetava em três pensamentos ao mesmo tempo, como os custos para ir de carro, de avião e de ônibus numa opção muito remota. Calculava também as taxas dos pedágios, das passagens e alimentação. Tudo para chegar perto de uma pessoa que sequer se dava ao esforço de pensar em minha condição física e financeira para alcançá-la. E esse tipo de pessoa não é do tipo que se possa contar muito, porque é uma característica acomodada, pedinte. Esse pensamento faz com que muitas coisas não se concluam na vida de um casal, justamente porque essa parte da relação é aquela que cedo ou tarde confronta, impõe (opiniões, regras, conceitos). Curiosamente, estive em duas situações parecidas, em que duas amigas diziam que seus companheiros falaram situações vividas na rua ou no trabalho, em que elas escutaram e depois começaram a corrigir num enfrentamento os caras. Ora, a lei da natureza é clara quando diz que os opostos não se atraem. Você não vê um boi se relacionando com uma égua. Nem um pato com uma galinha. Tampouco vê um pombo viver de amores com um falcão. Opostos não se atraem. Quem disse isso estava tentando defender um ponto de vista para conquistar alguém inalcançável para si, porém com grande imaturidade para acreditar nessa conversa da carochinha. A menos que uma das partes aceite ser a que será a pessoa companheira. E isso significa o que exatamente? Ora, significa que não deverá confrontar, se tornar oponente, ter enfrentamentos com a parte com quem se escolheu se relacionar. É insano pensar que o fato de ter alguém com você lhe dá a permissão de dar sua opinião, de modo que deprecie ou desmereça a opinião do outro. Quando a outra parte inicia um diálogo falando sobre um ocorrido, uma experiência externa; é óbvio que está buscando na sua parte-metade um apoio auditivo, uma troca de ideias sensata, não imperativa, e nem um enfrentamento. Numa situação uma amiga me disse que seu namorido (mistura de namorado, pois não vive com ela/ com marido, pois mesmo não vivendo com ela age como se fosse um marido, isto é, conserta as coisas em sua casa, resolve problemas com ou sem ela, até faz benfeitorias para a mãe da moça) chegou a casa falando de seu aborrecimento da passeata gay, em que achava um absurdo um bando de viado ficar afrescalhando no meio da rua, bloqueando o trânsito, ficando de firulas, bando de baitola de mente desocupada. Ela, por sua vez, tomou as dores dos gays e começou a falar um repertório de defesas sobre direitos humanos, exclusão social, machismo, homofobia, perseguição, e para piorar o que já estava ruim disse que estava decepcionada com ele. Puts... Olhei pra ela e perguntei em que planeta ela estaria vivendo. E comecei a explicá-la da insanidade que ela estava cometendo ao levantar a bandeira da defensora dos fracos e oprimidos. Primeiro porque ninguém pediu a ajuda dela, segundo porque ninguém sabe se ela existe, terceiro dentre outras enumerações, ela não tem que ter um enfrentamento logo com quem troca desejos e constrói projetos de vida. Uma grande burrice bater de frente logo com quem se deita de frente. Quando se escolhe alguém para viver, quer seja para namorar, casar ou ficar de rolo eterno tem que ter em mente que aquela pessoa preenche seu vazio de certa maneira, e confrontar é pedir para ficar só. Então ela defendeu-se dizendo que tem amigos gays e não suporta quando fala deles. Respondi que neste caso e ao que tudo indica, esses caras da passeata não eram os amigos dela. Então ela resmungou que gostava dos gays. Eu disse para que ela fosse honesta com o namorido e encerrasse a relação, e fosse namorar e viver com um gay, já que seu encantamento pelos homossexuais era maior do que a vida a dois com o namorado, quase marido. Ela disse que não fazia sentido, que ela não seria gay e não ia dar certo ver o cara dando para outro cara. E foi aí que eu disse para que ela, finalmente, parasse com essa hipocrisia de defender os gays e passasse a ouvir o namorado falar, pois as relações funcionam assim, a menos que o namorado a procurasse para se aconselhar sobre a ideia de buzinar e xingar os manifestantes de viado, baitola etc. Não, ele disse outra coisa, uma irritação de trânsito, uma chateação enquanto passava pelo local, devidamente compartilhado com ela, que do nada voltou com quatro pedras nas mãos. Ela me questionou que deverá ficar calada, sem opinar em nada. Respondi que jamais, mas que soubesse fazer isso sem ofender, diminuir o namorado. Sempre empoderem-se casais! São coisas que eu digo aos casais, desde há pouco tempo, quando tenho a oportunidade de convencê-los de que a relação poderá dar certo, desde que as partes saibam ser a parte necessária e bem-quista. Não há relação que dure quando você chega em casa e dá de frente com uma pessoa sindicalista, defensora de desconhecidos, apenas pelo prazer de fincar suas opiniões e sobressair com seus conceitos anteconceitos da relação. Ouvir, ponderar, sugerir e acima de tudo, abstrair são ingredientes de uma relação agradável e parceira. Fica a dica.